foto do centrinho antes da construção do Centrão.
CENTRINHO
Lembro de algumas coisas da minha infância como no dia em que nos mudamos para o Centrinho para que pudesse ser construida a casa nova.
O tio Inácio nos levou, eu e o Flávio, não me lembro se tinha mais alguém conosco nesse dia, fomos com umas sacolinhas contendo nossas poucas roupas sem saber o que estava acontecendo, foi angustiante a sensação que senti quando ele nos levou pelas mãos para outro lugar, não gostei de ficar lá no centrinho, ainda mais porque não tinha banheiro e tinhámos que ir no banheiro do Centrão fazer nossas necessidades.
Então descobrimos, para aliviar a angustia, que encontramos dois velocípedes no centrinho, pedimos ao Frei Pedro que prontamente nos deu, passávamos a tarde brincando, e para melhorar ainda mais conhecemos a irmã Anacleta que nos levava bolos, tortas e outras guloseimas.
Então o tão esperado dia de voltar para casa chegou, não lembro da mudança de volta, só lembro de acordar de manhã bem cedo, os raios de sol entrando pelas frestas da janelas de cor marrom, e um cheiro de tinta, todos dormiam, fiquei quieto por um bom tempo admirando a luz que se projetava nas paredes e inalando o cheiro da casa nova que até hoje tenho guardado na memória.
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Também senti muito ter que ir morar no Centrinho prá que a casa pudesse ser reformada. Não sei o que senti quando eu e o Jorge pegamos na marreta e juntos derrubamos com os pedreiros, o muro do banheiro da casa velha. Estava cansado de tomar banho sobre tábuas vendo a água lá no fundo cobrindo as lajotas do banheiro velho que já estavam submersas de tanto que se levantou a casa. Até pouco tempo ainda sonhava com isso.
Depois vimos fiada por fiada de tijolos ser levantada, até que numa bela noite só eu e o Jorge dormíamos no andar de cima da quase pronta casa nova e quando amanheceu o dia, tinham roubado acho que umas 12 sacas do melhor cimento. Mas no dia em que a casa ficou pronta, fiquei superfeliz pois não sei como apareceu um anjo em forma de Frei Pedro que viu nossa casa tombando e nas missas que eu o acompanhava no colégio Gentil ele numa daquelas tardes anunciou que tinha uma superfamília com 12 super-irmãos e 02 super-pais que precisava reformar a casa e falou que se tivesse alguém ali que pudesse ajudar de alguma forma, seria muito bemvindo. Assim começou-se outra fase de nossa vida.
Aquele momento de derrubada do banheiro, para mim, assim como os outros de derrubar o resto da casa antiga foi de descoberta. Cada ponto daquele que vinha abaixo era uma recordação ou uma espécie de expurgo das dificuldades financeiras. Uma nova realidade que se avizinhava,de esperanças para a família Amorim Dias.
Lembro bem de o frei Pedro passando em frente de casa. Depois ele,já dentro de casa, olhando o forro velho despencando sobre nossas cabeças, com o assoalho afundando na lama. Aquele senhor de cabeça branca me olhando com aquele olhar de ternura me censurando "Por que você nunca me disse que sua casa estava assim?". Claro, eu lá sabia que ele podia nos ajudar, como fez a tantos outros? Só sei que depois de um tempo tive que deixar de estudar na escola técnica para poder ajudar a construir aquela que até alguns anos atrás foi nossa adorável residência.
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