quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eleições 2010

Tem uns powerpoints que a gente recebe por e-mail  falando de tudo. Tem aqueles que vem com fotos de flores, de bebês, de gatinhos, de cãezinhos, de mulher pelada, de poesias, de anos 70, de anos 80, de carros antigos, de correntes, de anjinhos, de tudo quanto é espécie animal, mineral e vegetal.
Mas tem uns que são de rachar! Tô falando daqueles que, se avizinhando o período das eleições, querem  propagar na rede uma imagem negativa da candidata do PT à presidência.
São uns conteúdos cheios de ódio creditando todo tipo de ação inescrupulosa à pessoa da aspirante.
Tudo bem se alguém envia um texto denunciando isso e aquilo, porém ,   que mostre a fonte, mostre o contexto da notícia.
Engraçado que eu não recebo nada contra os outros candidatos.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

SARAMAGO.

O Artur Dilmar uma vez me mostrou um livro do Saramago. Era o "Todos os nomes".Gostei muito da trama e principalmente o texto apurado na lingua de Camões. Depois li alguns outros. Entre os quais o famoso "Ensaio sobre a cegueira" e "Memorial do convento", recentemente.
Teve um, pequenino que passei a vista, "As pequenas memórias", de onde selecionei uma pequena parte:

Protopoema
Do novelo emaranhado da memória da escuridão dos nós cegos, puxo um fio que me parece solto
Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os dedos.
É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limo, e tem a macieza quente do lodo vivo.
é um rio.
Corre-me nas mãos, agora molhadas.

sábado, 18 de setembro de 2010

SEMANA DA PÁTRIA (PARTE 2)

Era a Semana de shows das bandas marciais das escolas de Belém no campo do Remo. Naquela manhã, muitas escolas de Belém já haviam se apresentado e o show continuaria pela parte da tarde. Muitos estudantes formavam torcidas organizadas, claro, para darem apoio moral às bandas. O problema é que daí para os confrontos entre torcidas era um passo só.
Como já era comum, nos idos da década de 70 (século passado), havia uma rixa entre o
'Paes de Carvalho" e o "Augusto Meira". Isso toda a Belém sabia. A mamãe só me deixou ir ao "estádio" depois de eu assinar 50 vias de papel me comprometendo a não me meter em confusão, senão.... vocês já sabem o que aconteceria. O papai nem sonhava que eu estava lá, no meio da "galera" torcendo pelo colégio.
Então, saindo do campo do Remo, eu devidamente desidentificado, isto é, sem uniforme do colégio, comecei a ver alguns pequenos confrontos entre alguns alunos de colégios distintos. Aquilo já começou a me deixar preocupado. Mas, como eu estivesse neutro nessa história toda, não sofri nenhuma tentativa de agressão por parte de nenhum colégio arqui-inimigo do "Paes de Carvalho". Até hoje não entendo como é que o colégio inspirava tanto ódio em outros alunos.
Pois bem, eu descia a pé, juntamente com a minha torcida organizada, quando o grupo resolveu passar em frente do colégio Augusto Meira. A cena que agora passo a relatar ficou gravada na minha memória como fica marcada numa camisa branca a mancha do açaí... Vi de repente o grupo se desfazer em vários elementos desordenados correndo para as mais variadas direções. Gritos de desespero de pessoas que estavam nas paradas de ônibus, misturados a uma pancadaria selvagem entre os estudantes que se embolavam nas calçadas; mulheres com crianças no colo correndo desesperadas... E eu ali, mais perdido que cego em tiroteio. Foi quando o grupo ao qual eu estava ainda coeso se abriu de vez me deixando sem saber o que estava acontecendo. Olhei para o alto. Próximo das copas de mangueiras situadas naquele perímetro do colégio, vi de dois a três "braços" de carteira , girando no ar, como se fossem aviões de ataque kamikasis, um ao lado do outro. Giravam flutuando perigosamente em direção das cabeças inocentes. Pedestres, alunos e outras pessoas que por ali estavam naquela hora corremos para o outro lado da rua. Havia uma entrada para uma vila. Desesperadas, as pessoas se "danaram" a entrar nas residências próximas para conseguir abrigo diante de tamanha sandice. Os moradores trancavam suas portas e janelas desesperados, sem saber o que era tudo aquilo na vila. Não entrei nas casas, mas corri com um grupo de colegas para a tal vila. A desgraça da vila não tinha saída!!! Ficamos num beco sem saída, literalmente! Desesperados, corríamos desnorteados enquanto a batalha continuava a se dar entre o fim da vila e as paredes das casas... Como eu estivesse de camisa branca, ninguém sabia de que "facção" eu era. Escapei de fininho da vila, sem um arranhão. Corri para a avenida Magalhães Barata, que naquela época dava sentido para o centro, peguei o ônibus Batista Campos e pude descansar aliviado, deixando para trás o campo de batalha. Naquela altura do campeonato, as pessoas dentro do ônibus comentavam a falta de educação dos alunos. Eu só fazia ouvir o blá-blá-blá maledicente.
Próximo a igreja de Nazaré, lá estava uma parte da minha torcida caminhando na rua e alegremente cantando despreocupados fazendo muito barulho. Um convite para eu descer do ônibus e me juntar aquela gostosa e "inocente" algazarra de adolescentes... Foi a minha desgraça! Diz-se que "urubu quando está de azar, o de baixo caga no de cima". Quando eu me imaginava feliz e lampreiro no meio da minha "patota", todo feliz por fazer parte do grupo da torcida do melhor colégio da cidade, eis que chegam quatro viaturas da Polícia e nos fecham em cerco! "P... QUE PARIU!!!" Foi o que ouvi naquele momento. Um camburão se abriu na minha cara e não sei quantos PMs vestidos de verde-oliva avançaram de cacetetes ameaçadores e luvas brancas na nossa direção. Os meus colegas gritavam para que ninguém entrasse em pânico porque o diálogo é a melhor arma... Bem, nunca fui muito de acreditar nessa tal filosofia do diálogo, não é mesmo? Afinal, era o período da ditadura militar e quando você se encontra prestes a cair nas mãos do pelotão de choque da polícia, a primeira coisa que se pensa é: PERNAS PRA QUÊ TE QUERO... Outra vez, como mancha de açai em camisa branca, aquela cena desesperadora ficou impressa na minha memória. Vários colegas sendo "engravatados" pelos PMs, lindas colegas sendo arrastadas para dentro dos camburões, as pessoas nos olhando e xingando, os gritos de "CORRE! CORRE!" misturados aos chutes e golpes de imoblização despejados pelos PMs sobre meus colegas.... Minha nossa! Pensei, se o papai fosse me buscar na delegacia, aí sim eu seria um reles arremedo de moleque Dias.
Nestas situações de desespero, dizem os especialistas, a adrenalina atinge níveis altíssimos capazes de fazer uma pessoa comum erguer sozinha um carro de algumas toneladas... Pois bem, eu era magrela, amarelão e baixinho (ainda continuo baixinho, só que agora mais gordinho, fofinho e bonitão)e de repente minhas pernas me alçaram em um vôo que nem eu sei como consegui, me levando para trás da igreja de Nazaré, a 14 de março.
Enquanto a PM se fartava no meio da torcida, eu descia a ladeira da 14 de março acompanhado por alguns colegas e policiais em perseguição. Minhas passadas atingiram marcas recordes comparáveis as dos atletas em corridas de 100 metros. Nunca imaginei que eu pudesse voar com as pernas...
Hoje eu devo essa ao velho e bom Zé Dias que um dia me botou para praticar corrida no ginásio de educação física, por intermédio de uma sua prima que era professora de educação física (madrinha do Zé Maria). Ter aprendido um pouco de técnica de corrida me ajudou e muito naquela conturbada manhã de setembro... Escapei, milagrosamente, de duas surras: a dos PMs e uma que seria talvez a mais pior de todas, a do velho Zé Dias... Quem quiser que conte outra.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

"SEU" ZÉ DIAS E A SEMANA DA PÁTRIA

Estamos iniciando o mês de Setembro. Manhãs de esplendoroso céu azul e forte temperatura. Manhãs de uma década de 70 (século passado) e eu, lá na oficina da Pariquis, ouvindo os hinos e marchas daquele disco que todo ano tinha que se fazer ouvido. Era hino da Marinha ("Qual cisne branco que em noite de lua, vai navegando no mar azul.."), hino nacional, da bandeira, do exército, da independência e outros que não lembro mais os nomes...
Fui criado sob a empolgação do velho Zé Dias e de seu apoio incondicional aos militares no governo. Fui influenciado, como todo filho que se preza, pelas palavras de patriotismo e civismo que eram proferidas pelo nosso pai, sempre que iniciava-se o mês de Setembro. As mangas maduras balançando ao vento, davam àquele pedaçinho de Batista Campos um ar de feriado prolongado e a certeza de não pisar na escola tão cedo. Eu pedia autorização para ir até a Serzedelo Correa ver o desfile militar que acontecia iniciando na praça da República e entrava pela Gentil Bitencourt. Eu queria ser um piloto da Força Aérea. Eu via, empolgado, o desfile de toda a portentosa força nacional, guardiã de nossa pátria querida. Eu via a ordem, a execução dos passos cadenciados, ouvia o grito firme dos soldados, que encantava as garotas que também assistiam e davam gritinhos histéricos por cada soldado garboso... Eu queria a vida militar para mim. Acreditei que aquela era a melhor das profissões a ser seguida e que orgulharia o velho Zé Dias. Eu recordo que nessa época havia os vendedores de bandeirinhas do Brasil, do Pará, de cataventos coloridos, sorveteiros, pipoqueiros e outros ambulantes naquele tempo, disputando um troquinho naquele pedaço de B. Campos.
Voltava empolgado para a oficina e papai já devia ter rodado o mesmo disco pela centésima vez. As pessoas passavam na porta da oficina e elogiavam o gosto e atitude cívica do papai. Acho que elas não podiam criticar os militares mesmo.
Mas uma coisa que um dia me chamou a atenção num dos inúmeros desfiles que eu vi, foi a de um rapaz sendo arrastado por soldados. Os soldados com aqueles braceletes e capacetes brancos seguravam o adoleceste puxando um dos braços para trás arqueando sua coluna - devia tá doendo muito aquela posição - enquanto algumas pessoas gritavam que ele era um "subversivo". Não sei ao certo o que ele fez, eu não vi. Mas as coisas começavam a mudar um pouco em meus sonhos militares... Criança, não podia entender o que havia de errado naquela situação. Muito mais tarde as vendas caíram de meus olhos permitindo ver melhor o verdadeiro desfile.