segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Casal colado pelas partes.

Essa crônica do Raimundo Sodré lembrou uma situação vivida por mim e uma conhecida minha, a professora Neila. Não, não, não fomos nós que nos colamos!!! A história se passou nos idos de 1993 mais ou menos, quando o país atravessava uma situação braba financeiramente... Alguém inventou, segundo a Neila, que um casal, por castigo de Deus, havia ficado colado pelo sexo depois de cometerem adultério num interior do Pará de nome não revelado... O dito casal teria sido trazido para Belém para proceder à cirurgia que os livraria do tal castigo de Deus. O que me deixou impressionado foi a seriedade com que a Neila contava essa história. Eu não conseguia entender por que uma pessoa com o nível de formação (ela era graduanda da UFPA) que ela tinha pudesse acreditar num boato daqueles. Sabia-se que o casal chegara sob forte esquema de segurança e envoltos em lençóis para esconder tamanho e vergonhoso pecado. Os infelizes pecadores, dizque, haviam recebido guarida na Igreja dos Capuchinhos e, de lá, saíriam direto para conceituado hospital do estado para proceder à separação dos corpos colados. O boato se espalhou como rastilho de pólvora, ou como fogo em mato seco, digno de uma eficiente rádio cipó por toda a cidade. Eu não queria acreditar que aquela mentira ganhasse à meia-boca contornos de furo jornalístico chegando às emissoras de rádio que discutiam se o fato podia ocorrer ou não, se aquilo era possível ou não... uma verdadeira polêmica para ganhar audiência. Pois bem, eis que estou juntamente com a professora Neila dentro de um ônibus que passaria bem em frente à tal igreja. Juro por tudo quanto é mais sagrado! Ao passar lá na frente, vi, estarrecido, uma multidão de pessoas se acotovelando na porta dos capuchinhos, e uma fila enorme, bem organizada, dando uma volta incrível pelo quarteirão, tudo isso porque as pessoas queriam atestar a veracidade da notícia que rolava solta afirmando a presença do casal na casa de Deus. Súbito, passou uma idéia dessas que só iluminam os mais geniais num momento de crise. Eu e Neila iríamos fingir sermos parentes das vítimas e passar uma folha de papel em branco arrecadando 1 cruzeiro de cada pessoa presente ali naquela hora para ajudar nas despesas médicas da operação...... Minha parceira de viagem, nessa hora, caiu na gargalhada junto com outros passageiros que ouviram minha conversa... O ônibus passou lentamente pela frente da igreja assim como minha ilusão de enriquecimento ilícito ia-se desvanecendo à medida que aquela fila imensa ia ficando para trás....

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