terça-feira, 29 de setembro de 2009
Manhãs de setembro - Crônica da semana-Raimundo Sodré
Setembro é um mês ‘simpatiquerérrimo’. Pra começar, sucede o misterioso, quente e esfumaçado agosto; e antecede o abençoado e confiante outubro da Virgem Mãe Amorosa. É o mês que marca o início da Primavera que, penso eu, antes de ser um evento astronômico longínquo e silencioso, é um sentimento (peraí...vou dar uma olhadinha na minha roseira pra ver se ela me mostra algum florão risonho e límpido brotando). É um período meio convulsivo, reconheço (porque desencadeia chiliquitos naturais que, para nós, se mostram como as temidas chuvas de verão, trovões, relampejos e plúmbeos fins de tarde), mas de um destempero passageiro. No geral, as manhãs de setembro são coloridas como se houvessem juncadas de flores.
Essa atmosfera inspira alguns sentimentos nobres. A urbanidade ganha espaço.
Enquanto escrevo esta crônica, nesta terça, a Primavera prepara sua reestréia (acontece logo mais às 21:18h) e o mundo comemora a “Dia Mundial Sem Carro”.
O dia 22 de setembro marca o encerramento de uma campanha liderada pelo Geenpeace que prega uma ‘Semana de Mobilização Pelo Clima’.
A campanha se desenvolve com temáticas diversas: “Vacas nas ruas” (que lança mão de ativistas fantasiados de vaquinhas), trata da questão da produção pecuária e das suas implicações (a dita flatulência do gado, também) para o clima;”; “Limpeza de praia”, que para os amantes de Algodoal, como a artista plástica Cristal Tobias e o engenheiro Luiz Borella, é uma luta diária; “Ativista solar”, uma proposta para o uso da energia do sol; “Dia mundial sem carro”, titânica missão de tirar uma pá de motores das ruas e “Faça barulho pelo clima”, uma explosão midiática em favor do planeta.
A amiga Ghislayne Cunha me mandou uma mensagem, na semana passada, informando sobre a programação e os temas da campanha. Às intenções, me integrei imediatamente. Abracei todas as causas: nada de carro (só ando de bike, e quando não, experimento o calor humano às 6 e meia da matina no UFPA-Pedreira). Agora, em pleno meio-dia, aproveito o máximo do sol equinocial e sem nenhuma lâmpada da casa acesa, cato milhos só com a claridade que fulgura das frestas da veneziana que se abrem ao pegado do meu computador. E de tardinha, armado com minha sacola ecológica, vou até o Caripi, catar a bagulhada que me for possível (que por certo está largada à margem do rio Pará).
Confesso que para a questão dos rebanhos bovinos, não me animei muito. Creio que por uma aversão natural aos gases das reses do Brasil, e também, porque sou urbano, me faltam subsídios, vivência campesina e, sei lá, não fico muito bem fantasiado de vaquinha. Também me esquivei do barulho pelo clima. Sabe, não gostei da ‘imagem’ do barulho. Não acho que um protesto com fins ecológicos, tenha que vir subsidiado pela desordem sonora, que, por si já representa um dos mais nocivos tipos de poluição (e quem viveu uma quinta-feira como eu vivi a passada, com a afogueada águia eletrônica estremecendo as paredes da minha casa com o seu irritante tecnosom baiano, sabe bem o que quer dizer agressão ao sono, aos ouvidos, ao meio-ambiente, à lucidez, à cidadania e à paciência...). Aliás, dia desses, me meti numa passeata ecológica, num domingo, pela Presidente Vargas, cedo, ali pelas nove e poucas da madrugada, que contava com um DJ pra lá de espevitado que, aos berros, tentava convencer o pessoal das redondezas a participar da caminhada. Imagino o humor da galera, acordando com aquela estimulante exortação.
Apesar das contradições, não há motivos para desanimar. Vamos tentar curtir as manhãs do ‘simpatiquerérrimo’ setembro até o finzinho.
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