A tv. Dr. Moraes.
Anos 60. Abro os olhos.O sol entra pelas frestas das paredes de madeira. O vapor sobe da panela de café.A casa fechada ainda guarda o cheiro gostoso.Na mesa, toalha de algodão branco, sobre ela um pão "massa-grossa" estalando de quente, cortado de comprido, passado manteiga e uma mantegueira verde limão transparente.
Nos quartos, as redes formando um "N".
Lá fora, mato alto, grosso. Era um capim afiado, riscava de leve a pele. Cortando o mato, pontes, ou como eu escutava falarem, estivas de madeira. A imagem era a de uma grande cabeleira verde se agitando com o vento, que começava na rua dos Timbiras e seguia até a rua Conceição. Prá mim não era bonito nem feio. Era normal. Eu não achava ruim.A gente morava lá e nunca ouvi ninguém dizer que aquilo era ruim. Andar se equilibrando pelas pontes era um mérito de moleque esperto, pelo menos na minha cabeça de moleque.
Compondo o espaço da Dr. Moraes, paralela às pontes, a vala, como se chamava popularmente, depois soube que podia se chamar também canal, o que prá mim soava menos pejorativo. A vala da Dr. Moaraes , pensando bem hoje, é uma entidade, um caráter próprio da rua. É a cara da rua, se a rua tivesse uma cara. Naquele tempo a agua era clara, dava prá ver os peixes. As laterais eram de cimento. Me disseram que foram os americanos, não sei por que cargas d'água, que construiram o leito da vala.
6 comentários:
Minha lembrança ainda pequeno era das noites quando a luz ia embora. Gostava de ver as estrelas e um pisca-acende de vagalumes sobre o mato que crescia às margens da vala. Achava o máximo e um dia pensei em inventar uma lanterna só com vagalumes. Um dia o papai me disse que as 04 estrelas em forma de cruz no céu se chamava CRUZEIRO DO SUL e que 03 outras estrelas em linha se chamavam TRÊS MARIAS. Nunca mais me esqueci disso. Já a constelação de escorpião, essa eu nunca consegui enxergar no céu.
Quando a rua enchia, via a preocupação da mamãe, mas quando se é moleque, tudo é festa, principalmente prá quem não tinha nem piscina, nem praia, nem clube prá tomar banho. Eu gostava de meter os pés na água e sair chutando a água. Lembro do Valdemir Pequeno, que morava na casa da D.Marina que tinha um papagaio que gritava o apelido do marido dela: "JACARÉ, JACARÉ, JACARÉ!",esse Valdemir era o cão. Morria de rir, sem nem imaginar o risco que ele corria, surfando naquela vala após a chuva. A correnteza levava ele sobre uma tampa de isopor e ele voltava dando braçadas vala acima. Aquilo não sai da minha retina.
Também tenho uma lembrança fortíssima da nossa casa de madeira que eu achava parecida com um morcego por causa de duas telhas pontiagudas uma em cada ponta do telhado feito com telhas francesas. Só tinha em casa chique. As 02 janelas superiores com vidros coloridos pareciam olhos brilhantes. Dentro da casa, um corredor separava a porta da rua da sala e as tardes eram meio poéticas com o sol se pondo e iluminando a madeira com um tom meio alaranjado. À noite eu tinha um certo receio de olhar para o forro do meu quarto. Achava que tinham outros olhos me observando de lá. Coisa de criança.Era só o meu velocípede que ficava guardado lá em cima. Era só levantar e ligar as luzes no velho interruptor redondo feito de cerâmica e ferro e pronto - os olhos do forro sumiam.
E as redes atadas? Os antigos diziam que se bem enroladas na altura do peito podiam fechar PEITOS ABERTOS... Lembram disso?
Olá Senhores, achei interessante a idéia do Nazareno compartilhar essas histórias de vocês comigo, bem..quero que contem, se é que lembram da minha mãe, o que ela representava pra vocês, qual a primeira imagem dela que vem a mente de vocês, qual a primeira vez que lembram dela?
Sei de uma que ela me conta que uma vez o Zé Maria estava todo entupido sem respirar e ela ficou com medo dele morrer e sugou com a boca a secreção nazal dele.....
Bem...tenho algumas lembranças do pai de vocês em minha mente, a mamãe mandava eu chamar de avô p ele..eu ..sinceramente nao entendia, pq sabia que ele era marido da tia Maria..então..logo era meu Tio....sempre fui muito questionador...mas nao discutia com ela, afinal era minha Mãe, lembro dele ir em casa uma vez, era aniversário de alguém, tinha muita gente em casa, ele me deu uma menta "ice kiss" e me dizia que aquilo era geladeira de pobre e eu perguntei "por que Vovô Zezé", era assim que a mãe mandava eu chamar a ele....
ele me respondeu "tome água da torneira pra vc ver só"..
daí ví que ficava muito gelado....
ele também era muuito carinhoso comigo e com meus irmãos...
Só para clarear essa história de que os americanos construiram o leito da vala.
Na área próxima ao centrão que por muito tempo se chamou "Coréia", nas ruas São Silvestre e São Francisco havia uma base militar americana, o que poucas pessoas sabem. Fui informado dessa história certa vez em conversas com Walcyr Monteiro e em outra ocasião quando o prefeito Edmilson Rodrigues em visita àquele local também contou a mesma história. Já tentei pesquisar isto na internet porem ainda não encontrei registros sobre o assunto.
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