Artur Dias disse...
É bom que se lembre da mamãe como parte do movimento migratório que se realizava do Marajó para a capital, em razão do centenário processo de empobrecimento do arquipélago, por sua vez, fruto da concentração da terra nas mãos dos latifundiários. Longas viagens de montaria, nos verdes anos da adolescência, remando com bracinhos queimados de sol, atravessando distâncias a pé, para buscar água em poço fundo e sem proteção lateral... Ou coletando uruás para comer cozidos, no almoço, ou então amassando andiroba pra fazer azeite, e depois vendê-lo. Isso, e muito mais, fatos da vida ribeirinha, cada vez mais pressionada pela falta de recursos. Essa história também precisa ser contada.
Um comentário:
Tristezas a parte sobre a migração para Belém, lembro-me das histórias de fantasmas contadas pela mamãe e que nos aquietavam nas noites em que a luz ia embora. A mamãe sempre foi campeã e nos meter medo, mas eu gostava. Lembram das histórias de matinta-pereira? Lembram que ela contava que uma vez vinha no meio do rio e de repente ouviu sons de uma cidade no fundo do rio. O vovô dizia que era uma cidade que tinha sido inundada e o povo tinha morrido afogado e todo dia ao meio-dia se ouviam os rumores da cidade.
Também ela contava de uma noite que ela estava dormindo e ouviu no sonho o apito da velha voadora. Ato contínuo o vovô teria arremessado uma faca peixeira na porta da rua e assim quebrado o fado. No dia seguinte teriam encontrado uma velha caída no terreiro com cara que tinha caído de cara na lama. Tinha os cabelos sobre o rosto e somente grunia. A mamãe dizia que ela tinha um osso só no lugar dos dentes e que garantia um apito mavioso.
Depois conto mais....Ah D. Maria. Quantas palmadas peguei dela mas hoje agradeço muito a ela!!!
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