domingo, 10 de maio de 2009

Seu Zé Dias

A oficina Tele Dias se avizinhava com mais dois outros profissionais. Seu Lobato , o barbeiro, de bigodinho fino e cabelo bem penteado, com sua bata branca, calça vincada, sapato brilhando. O seu Ulisses, o sapateiro, sem camisa, com uma bermuda grossa cheia de cola de sapateiro, manchas pretas, marrons etc.
O papai vestia as vezes tambem uma bata azul. O cabelo tinha um topete estilo anos 50. Um bigodinho fino. Um anel de ouro com uma pedra vermelha, que eu gostava de ver. Na oficina aquela mopntoeira de tvs, rádios , gravadores e até brinquedos eletricos. O cheiro da solda derretendo no bico do ferro eletrico até hoje prá mim é um cheiro bom.
De tardinha, umas 5 horas mais ou menos, era uma pausa para uma merenda. Pão massa grossa quente com manteiga e coca cola. A gente se sentava lá fora e haja o papai a contar piadas e o povo a dar gargalhada. Mais tarde à noite às vezes eu ia com ele ( eu me arrebentando todo)carregando a valise cheia de ferramentas. Iamos nas casas de famílias de boa renda. Casas com piso de madeira encerada, eu não sabia e escorregava prá lá e prá cá. Casas de teto alto. Eu ficava admirado, olhando aquelas paredes pintadas, o forro de madeira, lustres...Móveis de madeira polida com vasos decorados. E o Zé Dias remexendo o bucho das televisões por trás. Eu era uma especie de instrumentador. Ele dizia- passa a chave tal! e eu catava no fundo da valise o objeto e passava prá ele. Encerrado o serviço, voltavamos prá casa ouvindo os grilos e olhando o céu com estrelas.

Um comentário:

Clara Amorim disse...

eu lembro do vovô, alias, acho que lembro ou pelo menos esquento a cuca no esforço de imaginar o que vivi nos curtos primeiro tres anos de minha existencia em que ele ainda esteve presente entre nós, por ser a primeira neta e a unica que o "conheceu" tenho consciencia que isto me tornou um pouquinho mais privilegiada que os outros que vieram depois,infelizmente so me lembro dele deitado, pedindo "benção" é a unica coisa que consigo lembrar, ele sempre deitado e sempre pedindo a minha até então, maozinha miuda,as vezes eu me pergunto se eu criei essa imagem , ou se ela é de verdade, talvez eu queira muito mesmo lembrar dessa pessoa sempre tão (bem) lembrada e querida, seja pela vovó, pelos meus tios, ou incansavelmente pelo meu "babai" lindo do meu coração, ou quem sabe eu tenha mesmo registrado um pouquinho dele, mesmo que seja um tiquinho só, como agradecimento por ter sido a unica que pode dar a mãozinha e ser abençoada da mesma forma que ele abençou cada um dos doze filhos :)