sábado, 9 de maio de 2009
A tv. Dr. Moraes.
Nossos vizinhos do lado direito eram a dona Maria, uma senhora alta, branca, nos dedos um cigarro. Não me lembro agora do nome do marida dela, acho que era seu Carlos. Ele era motorista de ônibus, do Batista Campos. Os filhos, eram o Antonio, Luis, Paulo, Sandra e Tânia. A gente brincava e brigava junto. Tinha também a dona Luzia e seu filho papudinho, o Babá. Todo dia ele saia sóbrio de manhã e quando era de tarde voltava cambaleando, se agarrando nas cercas e paredes das casas. Era metido a valentão. Era magro e envelhecido. A calça ficava caindo e ele puxando.Prá completar, ele tinha também um filho com as mesmas caracteristicas. A mãe dele, a dona Luiza era lavadeira, tinha os cabelos brancos e criava uns seis cachorros. Já era uma senhora idosa e era obrigada a conviver com dois bebados.
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8 comentários:
Velho Babá, D. Luzia, o neto, Sandro... esse era a cara do Zacarias com aquele cabelo caindo nos olhos. A gente ria muito dele. Lembro-me que certa vez o Sandro ganhou um avião do tipo planador e veio mostrar prá mim, e para o Artur. Prá infelicidade dele, fui experimentar lançando o brinquedo da janela de madeira do quarto onde o Zé e o Jorge dormiam e aí, o vôo do planador foi perfeito mas direto para a vala. Pena que não tinha trens de pouso de hidroavião. Ainda bem que nem o Sandro nem nós levamos bronca pois a perda do briquedo foi bem pior do que qualquer bronca ou surra.
Também sobre a D. Luzia, velha meio ranzinza, lembro-me que ela plantou uma castanheira na beira da vala e todos os dias subíamos nele e fazíamos a festa(e ponha festa nisso). Um belo dia vi a velha com o terçado na mão botando a árvore embaixo só prá gente parar de fazer bagunça na frente da casa dela, pode?
E a VELHA LAVADEIRA?? Lembra dessa?? Vó do Janjão, da Célia?? Não me lembro o nome dos outros netos agora. Uma tarde debrucei na primeira janela do lado de casa e peguei uma vassoura velha sem cerdas(chamava de talas naquele tempo) e comecei a balançá-la de um lado para o outros, simulando uma tacada de golfe, dentro duma valeta do lado de casa mas o que eu não sabia é que a velha vinha passando com uma trouxa de roupas branquinhas que ela ia entregar e....tchááááááá....dei um banho de lama nela e na roupa. Hoje acho graça disso mas a mamãe teve que me dar um cascudos que sei ela não queria mas era o único jeito de amansar a velha. Criança é dose!!!!
Eu lembro da rua doutor Moraes com suas estivas somente depois das chuvas. Antes, acho que era fim dos anos 60, papai levava a gente no jipe, junto com os filhos do seu Carlos, para catar aterro em alguns lugares de Belém. Trazíamos muita pedra para jogar na rua.
Da janela superior, eu via uma rua comprida. Poucas árvores na beira da vala. Não havia muito barulho. Dava para ver o Manuel Pinto, o maior edifício da cidade. Ele tinha uma antena e nela havia um número que de casa dava para enxergar. Também dava para ver alguns navios passando por entre os edifícios láááá longe... Acho que isso só era possível quando a casa em que morávamos ainda não havia começado a afundar na lama...
Bom, a minha memória seletiva (que já trabalhou inclusive em outros blogs, como o Quinta Emenda, Arbítrio, Quaradouro) relaciona coisas do tipo calango verde e azul na beira da vala, maçariquinhos pela areia, se imaginando lá no Carananduba, mussuns jogando beijo prá gente, aranhas imensas, cobras serpenteando na vertical, ovas de uruá a dois metros do chão e até um naco de sucuri bem gordo, como um pneu de moto, dentro do bueiro da Caripunas. Fora aquela ponte detestável do seu Jorge peixeiro, que uma vez deixou acho que de propósito uma cabeça de peixe com olhos fantasmagóricos semi mergulhada em frente à sua casa, sob a ponte. Acho que não peguei uma fase lá muito glamourosa da rua...
Artur
Também tinha as cercas de estaca de acapu, boa pra enfiar um estrepe em dedo de moleque, aquela planta de folha larga debaixo do quaradouro, com seu cheiro enjoativo (acho que eu era meio entojado mesmo), o dia em que o Jorge subiu no jambeiro e coletou 0,00000000001% da biodiversidade em artrópodos do quintal, o que dá mais ou menos umas 300 espécies ali presentes, com um exemplar de cada (santa biodiversidade!). Vidro cheio, tinha até aranha verde. E tinha a fruta de conde do quintal da Orlandina, segundo a mamãe, venenosa ( a fruta, não a dona, ainda).
Uma vez eu vi uma ratazana, enorme, aleijada de uma pata traseira. Imagine, se o bicho já é nojento com todas as patas... Aí peguei a
Rossi 0,5 mm e mandei ver. Pegou na espinha, acho, e de perneta, a ratazana virou paraplégica. O papai ouviu o estalo da Rossi, me tomou a espingarda, me esculachou, mas não escondeu o orgulho pela excelente pontaria do filhão enxerido.
Tinha o cão collie, lá no Consulado do Japão, na Pe. Eutíquio, ao lado da ex-igreja batista, por sua vez, ao lado do ex-Perpétuo Socorro. O diabo do cão ( ou o cão do diabo) era mimadinho, e adorava dar susto nos passantes. Ele tinha a seguinte estratégia: como eram duas grades, ele atacava a gente na primeira, corria e ficava esperando pra latir também na segunda, e como a maioria dos transeuntes era menos inteligente que o cão, passava na segunda grade e sempre tomava o susto repetido. Mas uma vez, pusemos nosso intelecto ardiloso pra funcionar. Papai, Nazareno e eu, fome da uma da tarde, descemos a Pe. Eutíquio, e lá o collie dá aquele susto. Mas antes da segunda grade, a gente atravessa a rua... pra ver o collie chegando nela com uma frustração indizível, um franzido da testa, a boca semi-aberta... Foi muito engraçado.
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