A maioria das coisas de comer, quando eu era garoto, tinha que levar uns bons bocados de farinha. Se era banana, banana com farinha! ovo frito? taca a farinha! camarão ,feijão, peixe, mel, abacate, piquiá, toma-lhe farinha. Osso com tutano só podia comer se joga-se umas colheradas de farinha dentro daquele buraco e revirava até formar aquela mistura nutritiva e passar prá dentro. Ehhh, dona Maria. Só assim prá encher o bucho daqueles 12 magrelos cabeludos.
Mas também tinha as frutas que a mamãe trazia naquelas sacolas coloridas, feitas daquele tecido de nylon, parecido com aquele que fazem cadeira de praia. Vocês sabem que cupuaçu, bacuri, uxi, muruci, taperebá, tem em maior quantidade na época das chuvas. Pois é... eu lembro da mamãe chegando lá pelas 11 horas da manhã debaixo do maior temporal cheia de compras do maior shopping da época, o Ver-O-Peso. A casa fechada ficava tomada pelo cheiro das frutas.
Mas, falando de pirão, eu me acostumei a fazer um pirão de feijão bem tufado e quentinho o qual se tivesse um pedaço de jerimun amassado ficava mais gostoso. Era bom com tudo: camaraão frito, camarão do maranhão, pirarucu frito, jabá frito, ovo frito. Uma vez achei de colocar óleo no pirão que já estava seco e então descobri um novo sabor. Dai fui aumentando a quantidade até um dia que eu tive um desarranjo intestinal . Passei mal, com enjôo e todas as consequencias dessas experiencias idiotas.
3 comentários:
Eu lembro bem de estar olhando pela janela lateral da parte de baixo de casa em direção a rua dos Timbiras. Havia a casa do dentista, logo depois do terrenão cheio de capim, onde havia um campinho. O muro da casa do dentista tapava a visão do resto da rua. Eu olhava ansioso aguardando a figura familiar que, como se fosse mágica, surgia depois do muro. Podia ser o papai, podia ser a mamãe ou outro parente. A maior parte das vezes eu ficava sentado no batente da janela, olhava os vizinhos jogando bola, enquanto a mamãe não aparecia pelo muro. Quando víamos aquela figura com as sacolas coloridas, corríamos para ajudar a carregar. Outras vezes, íamos esperar na esquina...
Eu me lembro de pé na porta da frente depois do café ao lado da mamãe dando tchau para o papai até ele sumir neste mesmo muro branco. Depois prá me divertir eu ficava na janela da frente gritando na direção do paredão de tijolos do dentista, só para ouvir o eco devolver o meu grito. Era curioso ouvir minha voz de volta. Podia ficar lá durante muito tempo fazendo isto.
Quando a mamãe ia ao Ver-o-Peso, costumava dizer que ia "Lá embaixo". Voltava de lá com as bananas nanicas que eu adorava. Não sei onde ela arranjava tanta força para carregar tantas sacolas.
Bacana mesmo era ajudar a fazer picadinho. Botava a carne cozida naquele moedor pesado que eu fazia questão de prender na beira da mesa e depois me punha a fazer força na manivela. De vez em quando eu deixava a D. Maria virar as costas e botava uns moídos prá dentro. Era muito gostoso, só que na hora do almoço a fome já era, mas eu ficava torcendo prá ela me dar essa tarefa de novo.
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