sábado, 31 de outubro de 2009
CLARA E O PRESIDENTE LULA
Acabamos de ver a reportagem do Jornal Record Belém em que nossa sobrinha Clara participa falando de sua emoção em ter uma obra sua escolhida para presentear o presidente Lula. Ficamos muito felizes com essa ótima notícia que valoriza o esforço e o talento de nossa adorada Clarinha. Parabéns mais uma vez e continue nos presenteando com seus dons.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
O PIF-PAF DENTRO DA VALA (TAMBÉM!!!)
A mamãe realmente era muito espevitada com as aprontações dos moleques mais velhos. Lembro que o Zé (sempre ele!) apareceu com umas cartas de baralho. Logicamente, eu, parceiro de brincadeiras e doidices semelhantes, fui convidado para aprender a jogar o PIF-PAF.... Primeiras lições e lá estávamos nós, religiosamente após o almoço jogando baralho. Os dias iam passando e nós já bem familiarizados com o jogo. Uma tarde, o Zé resolve jogar comigo valendo umas moedinhas (não sei de onde apareciam essas moedas que o Zé trazia). Sem percebermos, a mamãe entra no quarto e, súbito como um raio, cai em cima da gente. Arrancou as cartas do chão e jogou tudo dentro da vala - e que pontaria, heim? Meus irmãos, ainda tenho muito viva a imagem da mamãe dando o maior ralho nos dois pirralhos! Aquilo era jogo do "cão", que a gente era um bando de moleque, etc, etc... Pior! Tinha dinheiro no meio daquela desgraça de jogo!!! Nunca mais vimos baralhos naquela casa....
Pizza de jambú
Boa notícia!!!!!!!!!!!!
A Clara foi aprovada (1° lugar) em concurso de bolsa e para especialização de designer Master, promovido pelo Sebrae e Fapespa.
O curso é na Itália.
A Clara foi aprovada (1° lugar) em concurso de bolsa e para especialização de designer Master, promovido pelo Sebrae e Fapespa.
O curso é na Itália.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
CAVEIRA À VALA!!!!!!!!!!!!
Certa vez, não sei de onde, o Zé desenterrou uma caveira, e a levou enrolada num saco lá prá casa. Acho que ia fazer um despacho ou coisa parecida, ou outra experiência qualquer envolvendo, é lógico, o Jorge também. O fato é que ele saiu e eu descobri a danada escondida e fui bisbilhotar e botar medo nos menores e aí, a D. Maria, viu e botou a boca no trombone. Parecia que ela tinha visto uma imagem do "coisa ruim" em pessoa e na mesma hora, passou a mão na bicha e ....VUPT... jogou-a prá dentro da vala!! E agora??? O que eu ia fazer já que da mamãe eu não tinha apanhado, mas poderia pegar uma sova do Zé, pois eu nem sabia quem era o dono da caveira(virgem Maria, não o falecido dono), digo, mas o dono atual, ou sei lá quem. Tinha que improvisar e em matéria de coisa suja, de vala e outras coisas mais que a gente não tinha coragem de se meter, acabei metendo o Chardes nessa história e, sem que a mamãe visse, atravessei pro outro lado da vala, mato até o peito e lama até o joelho e metemos uma vara comprida dentro da vala e fomos cutucando a água até bater no côco da caveira, depois de batermos em inúmeros cocôs que por lá flutuavam, e o Chardes conseguiu meter a ponta da vara no buraco do olho do crânio e inclinamos a vara prá cima, só que, a mardita caiu de novo dentro da água-de-cheiro que era a vala e, pior, mais pro meio da vala...aí só teve um jeito: O coitado do Chardes se meteu dentro da vala (acho que ele tava meio afim de tomar um banho mesmo) e meteu a mão dentro dela e pegou a caveira. Ufa! Bronca resolvida pela metade pois peguei uma escova de lavar roupas da mamãe, bem escondido e lavei o tal Cranícola com tudo o que achei de sabão pela casa, mas o bicho não ficava branco e enfim guardei o coitadinho dentro do saco de novo até poder contar esta história prá vocês e digo com toda a sinceridade: Não repitam isso em casa de jeito nenhum!!
Aniversário da Nen (Parte 1)
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Camisa amarela - Crônica da semana - Raimundo Sodré
Era um ano antigo de uma década violada por violas, luas, torturas e guerras. Belém. Um daqueles dias quentes e abafados da minha querida Belém. Céu azul azul. Tudo parado, sem vento, sem vida. Apenas o padeiro passa silencioso, pedalando a sua bicicleta de padeiro. Sem alarde o café com pão da tarde. Alguém interrompe o cerzido monótono de esquina e toma lugar à mesa em meio a uma guerra da petizada pelo direito ao cuí do pão.
Tarde transcendente. Quente. Chata. Parada. Ardor cadente. Belém.
“Alô, alô, interior, quem mandou foi fulano...”. Hora do “café-com-pão-manteiga-não-que-engorda”. Do rádio, uma voz espalhada pela planície entorpecida, se comunica com o ‘interlan’ e sugere dietas.
O menino arruma três, quatro petecas no cós puído do short e lança-se ao mormaço da rua. Não foi à escola hoje. É dia de Educação Física e ele não tem o uniforme completo. Faltam-lhe as listras no short azul-marinho. A mãe deve explicar à professora que não achou short com listras no armarinho. Não vai para a aula enquanto a mãe não for se explicar com a ‘fessora’.
Logo agora que ensaia um canto e uma coreografia para o aniversário da escola (nos movimentos com o bastão, sempre erra a parte dele). Não foi à escola. São três horas da tarde e da agonia. Nem sinal daquela chuvinha (só aqui na minha janela para o passado é que ela existe). O canto para a festa: “sou soldado valente/e também sou gentil/pode crer minha gente/ eu nasci no Brasil”. E o meu short não tem listras, viu, completava ele.
Calor. Os colegas não apareceram na tarde modorrenta. Têm shorts com listras. Foram para a escola. Está tão só! Inventa um jogo de petecas consigo mesmo. Recita as regras: do mal. Fedeu-morreu. Escapole-deixa. Palmo-mata. Não dou mão e não tem ispa. Cria um impasse indissolúvel. Fico-e-não-dou-fico-pra-sair-do-lugar. É escabriado. Desiste do jogo. Precisa de um rumo para a sua tarde. Não foi à escola. Short sem listras. Tão só!
Hoje tem arraial! Ele sabe chegar ao largo. É perto do trabalho da mãe. Cadê a minha camisa amarela? A avó tá dormindo. Se acorda é logo que ralha. Ei, motorista, para no canto da Aveirense.
A mãe toma um susto quando o vê por ali. “O que foi, menino?”. Nada não, mãe dele. Não foi à escola por cauda daquela história, sabe. Estava tão sozinho. Sente que é bom estar contigo, mãe. Na solidão, te procura, mãe. Na tarde calorenta e vazia quer a mãe. Sentiu uma saudade dolorida. Saudade da mãe. Sabe aonde te encontrar, por isso veio...Deixa, mãe, deixa o menino combater a letargia da tarde.
Um sorriso orgulhoso brota dos lábios doces da mãe. Meu pequenino, já enfrenta as inquietudes de uma tarde deserta.
A mãe diminui o saldo do mês e arruma umas moedas no caixa, para uma volta no carrossel...
O menino escolhe um elefante cinza, de cara simpática. É divertido o sobe desce previsível do carrossel. A brisa do final de tarde anima o elefante bobo e voador. Iupiiiiiiiiiiii! Eia, elefante bobalhão, orelhudo. Patético. E... o menino voa de volta para casa. A mãe alertou: hoje é dia de muito movimento na padaria. Sai muito tarde, lá pelas onze horas, meia-noite. Uma volta no carrossel e casa. Não me espera. Pega o Pedreira-Nazaré, lá na São Jerônimo. Olha pros dois lados quando for atravessar a rua!
A mãe ficou para trás. Atrás da máquina registradora. A temperatura do seu dia mudou. Sente alguma satisfação, mas não está feliz. Rodou a valer no carrossel e tomou guaraná com pastel de queijo naquela tarde reveladora, mas o mel do algodão doce de alguém que passava ao seu lado, caiu na sua camisa amarela e eternizou ali uma mancha...doce
Tarde transcendente. Quente. Chata. Parada. Ardor cadente. Belém.
“Alô, alô, interior, quem mandou foi fulano...”. Hora do “café-com-pão-manteiga-não-que-engorda”. Do rádio, uma voz espalhada pela planície entorpecida, se comunica com o ‘interlan’ e sugere dietas.
O menino arruma três, quatro petecas no cós puído do short e lança-se ao mormaço da rua. Não foi à escola hoje. É dia de Educação Física e ele não tem o uniforme completo. Faltam-lhe as listras no short azul-marinho. A mãe deve explicar à professora que não achou short com listras no armarinho. Não vai para a aula enquanto a mãe não for se explicar com a ‘fessora’.
Logo agora que ensaia um canto e uma coreografia para o aniversário da escola (nos movimentos com o bastão, sempre erra a parte dele). Não foi à escola. São três horas da tarde e da agonia. Nem sinal daquela chuvinha (só aqui na minha janela para o passado é que ela existe). O canto para a festa: “sou soldado valente/e também sou gentil/pode crer minha gente/ eu nasci no Brasil”. E o meu short não tem listras, viu, completava ele.
Calor. Os colegas não apareceram na tarde modorrenta. Têm shorts com listras. Foram para a escola. Está tão só! Inventa um jogo de petecas consigo mesmo. Recita as regras: do mal. Fedeu-morreu. Escapole-deixa. Palmo-mata. Não dou mão e não tem ispa. Cria um impasse indissolúvel. Fico-e-não-dou-fico-pra-sair-do-lugar. É escabriado. Desiste do jogo. Precisa de um rumo para a sua tarde. Não foi à escola. Short sem listras. Tão só!
Hoje tem arraial! Ele sabe chegar ao largo. É perto do trabalho da mãe. Cadê a minha camisa amarela? A avó tá dormindo. Se acorda é logo que ralha. Ei, motorista, para no canto da Aveirense.
A mãe toma um susto quando o vê por ali. “O que foi, menino?”. Nada não, mãe dele. Não foi à escola por cauda daquela história, sabe. Estava tão sozinho. Sente que é bom estar contigo, mãe. Na solidão, te procura, mãe. Na tarde calorenta e vazia quer a mãe. Sentiu uma saudade dolorida. Saudade da mãe. Sabe aonde te encontrar, por isso veio...Deixa, mãe, deixa o menino combater a letargia da tarde.
Um sorriso orgulhoso brota dos lábios doces da mãe. Meu pequenino, já enfrenta as inquietudes de uma tarde deserta.
A mãe diminui o saldo do mês e arruma umas moedas no caixa, para uma volta no carrossel...
O menino escolhe um elefante cinza, de cara simpática. É divertido o sobe desce previsível do carrossel. A brisa do final de tarde anima o elefante bobo e voador. Iupiiiiiiiiiiii! Eia, elefante bobalhão, orelhudo. Patético. E... o menino voa de volta para casa. A mãe alertou: hoje é dia de muito movimento na padaria. Sai muito tarde, lá pelas onze horas, meia-noite. Uma volta no carrossel e casa. Não me espera. Pega o Pedreira-Nazaré, lá na São Jerônimo. Olha pros dois lados quando for atravessar a rua!
A mãe ficou para trás. Atrás da máquina registradora. A temperatura do seu dia mudou. Sente alguma satisfação, mas não está feliz. Rodou a valer no carrossel e tomou guaraná com pastel de queijo naquela tarde reveladora, mas o mel do algodão doce de alguém que passava ao seu lado, caiu na sua camisa amarela e eternizou ali uma mancha...doce
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segunda-feira, 26 de outubro de 2009
O rádio de galena turbinado
Em se falando de invenções da oficina do papai, o rádio galena era o suprasumo da tecnologia. O papai tinha me explicado como o rádio funcionava, a recepção das ondas eletromagnéticas, etc...E ai então ele me ensinou a fazer um receptor simples de AM. Fiz o tal rádio com componentes minúsculos que cabiam numa caixa de chiclete. O bicho funcionava espetacularmente! Tudo bem que ele só pegava a PRC5, a rádioClube.
O segredo da boa recepçãoera uma antena feita de fio de cobre esticada entre duas paredes. Só que o papai me disse que os fios da rede elétrica eram a maior antena que existia!Ou seja, se a gente conectasse o fio da antena em um dos buracos da tomada de energia, no caso o pólo neutro, a recepção que já era boa, ficaria excelente. Dai, lá na sala de casa, fiz a tal experiência, conectei ao pólo neutro da rede: Toma-te! o som ficou melhor. Mas o circuito do radio tinha também o tal fio terra, que deveria ser conectado a uma barra de cobre fincada no chão. Mas como não tinha isso lá em casa eu peguei esse fio extra e achei de, brincando, encostá-lo na caixa metálica do "registro de luz" na parede. Imediatamente faíscas espocaram na minha cara, choque na mão, fios pegando fogo, apagaram-se as luzes de casa. Um susto danado, além de uma esculhambada geral.
O segredo da boa recepçãoera uma antena feita de fio de cobre esticada entre duas paredes. Só que o papai me disse que os fios da rede elétrica eram a maior antena que existia!Ou seja, se a gente conectasse o fio da antena em um dos buracos da tomada de energia, no caso o pólo neutro, a recepção que já era boa, ficaria excelente. Dai, lá na sala de casa, fiz a tal experiência, conectei ao pólo neutro da rede: Toma-te! o som ficou melhor. Mas o circuito do radio tinha também o tal fio terra, que deveria ser conectado a uma barra de cobre fincada no chão. Mas como não tinha isso lá em casa eu peguei esse fio extra e achei de, brincando, encostá-lo na caixa metálica do "registro de luz" na parede. Imediatamente faíscas espocaram na minha cara, choque na mão, fios pegando fogo, apagaram-se as luzes de casa. Um susto danado, além de uma esculhambada geral.
domingo, 25 de outubro de 2009
AH, DONA MARIA....
Ah, D. Maria! Brincar de falar qualquer coisa mais pesada perto dela era sinal de levar bronca até algum tempo atrás. De vez em quando ainda pego umas esculhambações só prá não perder o hábito. Faço só prá rir mesmo da seriedade de nossa velha mãe.
Durante nossa vida, essa atitude de sempre nos colocar na linha, me fez refletir hoje o quão foi difícil prá ela lidar com 12 moleques pois se esse meu único é fogo na roupa, imaginem 12!!!
Lembro que vendíamos chop em casa prá ajudar no orçamento. Eu mesmo cheguei a vender numa pequena geladeira de isopor na frente do Amazonas de Figueiredo. Me lembro também indo junto com o Jorge, até "lá embaixo" na Rua Sete de Setembro, vender milhares de quilos de papel que recolhiamos não sei por onde prá juntar uma graninha qualquer e comprar, acho que, bombons e ajudar um pouquinho em casa também. Ainda não tinham inventado flanelinhas, lavadores de parabrisas, etc...Acho que não teríamos coragem. Mas também chegamos a vender arame/cobre que desenrolávamos aos montes e vendíamos também nos ferros-velhos próximos de casa. Juntávamos também garrafas de litro e levávamos em troca de bombons no Guaraná Globo.
Essas iniciativas sempre foram apoiadas pela mamãe que detestava ouvir palavrões da boca dos filhos e abominava o uso de bebidas alcóolicas em casa, exceto um vinho ou champagne nos dias festivos, raros momentos de final de ano, quando as crianças tomavam NESCAU e comiam um bolo.
Uma vez, me meti numa bagunça no Amazonas de Figueiredo e alguém me viu e fui parar na secretaria da escola. O resultado? Chama a D. Maria. Lá ela largou as pilhas de roupas no tanque e foi ver o que houve! Só sobrou bronca prá mim e uma ordem dela prá professora: - "Pode castigar mesmo". Se tiver que puxar a orelha, eu estou lhe dando total liberdade prá isso!!" Fiquei aborrecido na época, mas depois entendi, afinal depois disso saí da escola e ainda apertei umas campainhas e saí correndo depois. Moleque é tudo safado mesmo, né?
Mas, uma das que mais me marcou foi de, ainda pequeno, tipo com uns 6 anos, acho eu, ter chamado "MERDA!" perto dela! Caramba, fui acuado na lateral da estante de madeira com aquele adesivo do JARBAS PASSARINHO e aí ela só dizia assim, com uma sandália Havaiana(que já existia naquela época) na mão direita levantada: "- Fala de novo, fala!"
É, e hoje, pai nenhum pode pegar um pouco mais pesado com seus filhos que é tudo crime. Crime que nada. Não fosse por isso eu não estava aqui firme e forte lembrando disso com humor.
Salve D. Maria, minha mãe!
Durante nossa vida, essa atitude de sempre nos colocar na linha, me fez refletir hoje o quão foi difícil prá ela lidar com 12 moleques pois se esse meu único é fogo na roupa, imaginem 12!!!
Lembro que vendíamos chop em casa prá ajudar no orçamento. Eu mesmo cheguei a vender numa pequena geladeira de isopor na frente do Amazonas de Figueiredo. Me lembro também indo junto com o Jorge, até "lá embaixo" na Rua Sete de Setembro, vender milhares de quilos de papel que recolhiamos não sei por onde prá juntar uma graninha qualquer e comprar, acho que, bombons e ajudar um pouquinho em casa também. Ainda não tinham inventado flanelinhas, lavadores de parabrisas, etc...Acho que não teríamos coragem. Mas também chegamos a vender arame/cobre que desenrolávamos aos montes e vendíamos também nos ferros-velhos próximos de casa. Juntávamos também garrafas de litro e levávamos em troca de bombons no Guaraná Globo.
Essas iniciativas sempre foram apoiadas pela mamãe que detestava ouvir palavrões da boca dos filhos e abominava o uso de bebidas alcóolicas em casa, exceto um vinho ou champagne nos dias festivos, raros momentos de final de ano, quando as crianças tomavam NESCAU e comiam um bolo.
Uma vez, me meti numa bagunça no Amazonas de Figueiredo e alguém me viu e fui parar na secretaria da escola. O resultado? Chama a D. Maria. Lá ela largou as pilhas de roupas no tanque e foi ver o que houve! Só sobrou bronca prá mim e uma ordem dela prá professora: - "Pode castigar mesmo". Se tiver que puxar a orelha, eu estou lhe dando total liberdade prá isso!!" Fiquei aborrecido na época, mas depois entendi, afinal depois disso saí da escola e ainda apertei umas campainhas e saí correndo depois. Moleque é tudo safado mesmo, né?
Mas, uma das que mais me marcou foi de, ainda pequeno, tipo com uns 6 anos, acho eu, ter chamado "MERDA!" perto dela! Caramba, fui acuado na lateral da estante de madeira com aquele adesivo do JARBAS PASSARINHO e aí ela só dizia assim, com uma sandália Havaiana(que já existia naquela época) na mão direita levantada: "- Fala de novo, fala!"
É, e hoje, pai nenhum pode pegar um pouco mais pesado com seus filhos que é tudo crime. Crime que nada. Não fosse por isso eu não estava aqui firme e forte lembrando disso com humor.
Salve D. Maria, minha mãe!
INVENÇÕES NA OFICINA
Durante nossa aborrecência, íamos eu e o Artur ajudar o papai na oficina e aí às vezes conseguíamos inventar as mais diversas maneiras de se divertir por lá para passar o tempo. Certa vez vimos o S. Zé Dias testando o alto-falante de um rádio, usando uma pilha. Era legal ouvir o "reco-reco" que o alto-falante fazia e eu e o Artur, que também já naquela idade tinha umas idéias prá lá de cientista maluco, resolvemos reproduzir a experiência e saímos fazendo "reco-reco" em todos os alto-falantes que encontrávamos por lá e foi quando eu tive a "brilhante idéia "(prá não dizer o contrário) de meter as pontas dos fios do "boca-de-ferro" numa das tomadas da bancada do papai e o resultado foi um sonoro "POU" do bicho espocando e fumaçando, afinal a corrente elétrica era muito forte prá ele. Rimos um bocado e gosto de contar essa história para incentivar que nossos filhos também se animem e também se lancem em experimentos prá entender como as coisas funcionam.
Mas o pior ainda estava por vir. Belo dia, estávamos sozinhos na oficina da casa da Dila, quando começamos a ouvir um barulho dentro de um rádio velho feito de madeira e saímos procurando o que era. Pois não é que uma catita tinha ficado presa em meio às válvulas e circuitos do bicho?
Coitadinha! Pegamos uma chave de fenda e ... o resto da história não vou contar pois depois alguém ligado aos direitos dos animais pode querer nos prender. Lembra disso Artur??
Mas o pior ainda estava por vir. Belo dia, estávamos sozinhos na oficina da casa da Dila, quando começamos a ouvir um barulho dentro de um rádio velho feito de madeira e saímos procurando o que era. Pois não é que uma catita tinha ficado presa em meio às válvulas e circuitos do bicho?
Coitadinha! Pegamos uma chave de fenda e ... o resto da história não vou contar pois depois alguém ligado aos direitos dos animais pode querer nos prender. Lembra disso Artur??
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Icoaraci-Belém ou vice-versa - Crônica da semana - Raimundo Sodré
No sábado, acompanhei um amigo romeiro até Icoaraci. Ele queria ver a chegada da Santa para a romaria fluvial. Meu amigo é romeiro meio de araque. É da barra. É rebento genuinamente pedreirense. ‘Vicici’ na corda. Só que agora, trabalha com ouro em Itaituba e quando vem por aqui se enche de pavulagem. Desta vez, quis porque quis se abalar até Icoaraci. Quis satisfazer algumas carências: rever o cruzeiro, a casa do poeta Antonio Tavernard, passear à sombra das mangueiras da Vila de Pinheiro, comer uma caldeirada na beira...
Feita a desobriga no trapiche, partimos para a recomposição de lembranças e depois de um farto repasto e umas quantas geladas, decidimos zarpar.
Meu amigo é gente do bem. Só que tem um problema. Não pode beber (até que pode. Não fica um porre chato nem malino. Aliás, fica até um porre consciente, tanto que o que vou contar agora, me foi relatado, com detalhes, por ele mesmo; mas fica logo bêbado e pra lá de despachado, engraçado e extraordinariamente descompensado).
Eu e meus meninos fomos de ônibus para a Vila Sorriso, bem cedinho. Ele foi de carro. Só que não me avisou. Daí, da feita que nos levantamos do restaurante, ele nos acompanhou. Subiu no Icoaraci-Presidente Vargas com a gente. No caminho, balbuciou meio sonolento: “amanhã venho buscar”. Perguntei o quê. “O carro”, ele disse. “Pô, deixaste o carro em Icoaraci”, ralhei. “E nem lembro onde larguei”, confessou. Depois, desandou a falar da devoção à Virgem de Nazaré. Contou a história de D. Fuas Roupinho, que nas suas caçadas pelas floretas de Portugal foi atraído por um veado para um precipício e foi acudido pela Santa, momentos antes da queda (minha avó tinha um quadro com esta cena em casa: o cavalo contorcendo-se no ar. O desespero do caçador. O riso cínico do demônio alado a planar sobre o vazio do precipício e a Santa Virgem Maria vencendo o mal).
A seguir, num repente, mudou o rumo da prosa e varou à margem do Murutucu, já contando a versão do caboclo Plácido. Tão confuso, quanto inaudível, foi baixando a voz e se entregando a um soninho. Me certifiquei estarem as crianças acomodadas naquele banco mais alto que os outros e me ‘interti’ apreciando a viagem, na paz. De repente, meu amigo despertou. Fez uma cobrança a si mesmo e, vexado, cedeu o lugar a uma gestante. Mal conseguia se manter em pé. Mas primou pelo cavalheirismo. Obsequioso, lembrou que íamos para a Pedreira e deveríamos pegar dois ônibus. “Desceremos no Bosque”, ordenou.
As poucos, foi sumindo no apertado do corredor, e quando atinei, meu amigo não estava mais no ônibus...
No outro dia, no almoço do Círio, ele me contou: viu umas árvores juntinhas, um bambuzal. Pensou que fosse o Bosque e desceu do coletivo. Na calçada ficou meio azuruote. “Cadê as grades? Cadê o muro? O Mapinguari?, Vai ver que desci na rua detrás”, convenceu-se. Não se afobou. Avistou uma parada coberta, largou sobre o banco a mochila (costume que trazia da mineração: andar sempre com uma mochila completa com as coisinhas do dia-a-dia, inclusive a carteira com dinheiro, documentos, cartões de crédito...) e se entregou a outro soninho. Lá pelas tantas, uma jovem senhora o despertou. “Onde estou?”, perguntou. “Na Augusto Montenegro”, respondeu a moça. “Indo ou vindo?”, inquiriu ele, com ar de extremada despreocupação. “Aí vai do senhor”, devolveu a zinha. “Tem razão”, rebateu meu amigo, “eu decido o meu caminho. E vice- versa”, filosofou. E ‘enchinou’ de novo.
Acordou milagrosamente munido de todos os seus pertences, aos primeiros raios de sol de um domingo, sem dúvida nenhuma, abençoado.
Feita a desobriga no trapiche, partimos para a recomposição de lembranças e depois de um farto repasto e umas quantas geladas, decidimos zarpar.
Meu amigo é gente do bem. Só que tem um problema. Não pode beber (até que pode. Não fica um porre chato nem malino. Aliás, fica até um porre consciente, tanto que o que vou contar agora, me foi relatado, com detalhes, por ele mesmo; mas fica logo bêbado e pra lá de despachado, engraçado e extraordinariamente descompensado).
Eu e meus meninos fomos de ônibus para a Vila Sorriso, bem cedinho. Ele foi de carro. Só que não me avisou. Daí, da feita que nos levantamos do restaurante, ele nos acompanhou. Subiu no Icoaraci-Presidente Vargas com a gente. No caminho, balbuciou meio sonolento: “amanhã venho buscar”. Perguntei o quê. “O carro”, ele disse. “Pô, deixaste o carro em Icoaraci”, ralhei. “E nem lembro onde larguei”, confessou. Depois, desandou a falar da devoção à Virgem de Nazaré. Contou a história de D. Fuas Roupinho, que nas suas caçadas pelas floretas de Portugal foi atraído por um veado para um precipício e foi acudido pela Santa, momentos antes da queda (minha avó tinha um quadro com esta cena em casa: o cavalo contorcendo-se no ar. O desespero do caçador. O riso cínico do demônio alado a planar sobre o vazio do precipício e a Santa Virgem Maria vencendo o mal).
A seguir, num repente, mudou o rumo da prosa e varou à margem do Murutucu, já contando a versão do caboclo Plácido. Tão confuso, quanto inaudível, foi baixando a voz e se entregando a um soninho. Me certifiquei estarem as crianças acomodadas naquele banco mais alto que os outros e me ‘interti’ apreciando a viagem, na paz. De repente, meu amigo despertou. Fez uma cobrança a si mesmo e, vexado, cedeu o lugar a uma gestante. Mal conseguia se manter em pé. Mas primou pelo cavalheirismo. Obsequioso, lembrou que íamos para a Pedreira e deveríamos pegar dois ônibus. “Desceremos no Bosque”, ordenou.
As poucos, foi sumindo no apertado do corredor, e quando atinei, meu amigo não estava mais no ônibus...
No outro dia, no almoço do Círio, ele me contou: viu umas árvores juntinhas, um bambuzal. Pensou que fosse o Bosque e desceu do coletivo. Na calçada ficou meio azuruote. “Cadê as grades? Cadê o muro? O Mapinguari?, Vai ver que desci na rua detrás”, convenceu-se. Não se afobou. Avistou uma parada coberta, largou sobre o banco a mochila (costume que trazia da mineração: andar sempre com uma mochila completa com as coisinhas do dia-a-dia, inclusive a carteira com dinheiro, documentos, cartões de crédito...) e se entregou a outro soninho. Lá pelas tantas, uma jovem senhora o despertou. “Onde estou?”, perguntou. “Na Augusto Montenegro”, respondeu a moça. “Indo ou vindo?”, inquiriu ele, com ar de extremada despreocupação. “Aí vai do senhor”, devolveu a zinha. “Tem razão”, rebateu meu amigo, “eu decido o meu caminho. E vice- versa”, filosofou. E ‘enchinou’ de novo.
Acordou milagrosamente munido de todos os seus pertences, aos primeiros raios de sol de um domingo, sem dúvida nenhuma, abençoado.
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quarta-feira, 21 de outubro de 2009
REVISTA NATURAMA
CADE AS HISTÓRIAS E AS ESTÓRIAS?
Cade as histórias e as estórias da nossa ilustre família??? Estou sentindo falta.
Aos mais velhos que tiveram mais tempo junto ao nosso velho pai e outros familiares que não chegamos a conhecer, falo por nós, os mais novos.
Queria saber mais sobre o Seu Dias, a Dona Maria, nossos avós.
Sei que falta tempo e as vezes a memória falha, mas vamos nos esforçar para lembrar de cada momento vivido.
E aí vai uma sugestão, não seria bom armazenar todos as postagens em um determinado local, como em um DVD por exemplo? Pois não sei por quanto tempo uma postagem pode ficar guardada no blog, e além do mais teríamos mais um meio de deixar registrado a nossa história, e também deixar para a posteridade, quem sabe lançar um livro entre nós mesmos com direito a ilustrações de cada momento.
PARABENS PARA A NAZA E PARA O NAZO
Uau! Esse povo gosta de festa mesmo, e lembrando que no final do mês é o aniversário do Nazareno, será que vai ter dois dias de festa também??? Vamos fazer uma festa de fantasias???
Já pensaram se essa moda pega, imaginem no mês de maio, vai ser festa o mês todinho, é Daniel, Fátima, Jorge e Zé Maria, esqueci de alguem????
Obs: Era bom fazer um calendário com a data de todos os aniversariantes, pois é tanta gente que faço confusão, acabo dando parabens pro Jorge quando o aniversário é do Daniel e vice versa.
Santo Antonio de Lisboa
Quem tem alguma história do Frei Pedro? e dos outros Freis ?
Lembro do frei Pedro de manhã cedo em casa e varando na cozinha, acordando a gente, com aquele vozeirão com sotaque de gringo. Grande Pedrão, grande Pedrão!!!!
Lembro do frei Pedro de manhã cedo em casa e varando na cozinha, acordando a gente, com aquele vozeirão com sotaque de gringo. Grande Pedrão, grande Pedrão!!!!
ANIVERSÁRIO DO GUILHERME
Acho que os bandidos ficaram chateados de não terem sido convidados e aí resolveram dar o troco no Guilherme. Talvez fossem pedir o resgate das cadeiras e do carrinho-de-mão no dia seguinte e o pagamento do resgate? Outra festa, é lógico!
O fato que é que há pelo menos 02 domingos rimos de graça desta que é mais uma do casal 20 da F.Guilhon! Parabéns aos dois!!
Joguem a "Veja" no lixo
LEITURAS DE VEJA
Mais não disse nem lhe foi perguntado
Por Washington Araújo em 20/10/2009 em Observatório da imprensa(site)
A revista Veja parece ter perdido a mão, se é que podemos dizer assim, quando o assunto é tratar de mortos. Em certa medida isso ilustra bem a tese defendida por alguns sociólogos de que a cultura brasileira não lida bem com a morte, que em nossa tradição judaico-cristã a morte se transmuta em silêncio e dor. E aqui uma contradição paralisante: mesmo sofrendo com a partida de uma pessoa não devemos nos sentir impedidos de celebrar, de colocar em alto relevo fatos importantes relacionados à vida de uma pessoa.
Preguiça mental é o mesmo que falta de pesquisa, empenho sobre o assunto a ser publicado. Parece que Veja descuidou por completo a assertiva dando conta que não se faz um bom obituário sem os fatos da vida da pessoa. Redigir um obituário que se ponha de pé exige ir atrás, fazer entrevistas, conversar com parentes, entrevistar amigos.
Há o precedente da excelência na arte de escrever obituários. Chamo de precedente por ser prática pioneira do New York Times, entrevistar o próprio obituariado, quando há tempo, quando se pega em vida. E essa prática do NYT remonta ao início dos anos 1960 e o objetivo desde então continua o mesmo: esclarecer ou conferir a exatidão de fatos obscuros sobre a vida do personagem. Obituário é, portanto, coisa séria e jamais deveria ocorrer de forma leviana ou inconseqüente como alguém que envia mensagem por Twitter avisando a morte de alguém. Nesse ponto, Veja e a linguagem-twitter convergem quando se trata de Mercedes Sosa – 140 caracteres no máximo, nem mais, nem menos.
Coleção de clássicos
Nos países anglo-saxões os obituários de jornais e revistas são, em geral, reconhecidos como os textos mais bem escritos do jornalismo. Estudiosos de jornalismo já ouviram falar de jornalistas como Robert McG Thomas e Alden Whitman, conhecido como "Mr. Bad News" e imortalizado por Gay Talese no livro Aos Olhos da multidão. McG e Whitman ficaram conhecidos por terem um texto saboroso, que os aproxima muito do jornalismo literário, embora trate sempre da morte e, de alguma forma, renda tributo à tristeza ou ao início de uma saudade sem fim.
Qual o critério adotado para selecionar as pessoas que estarão no obituário? Embora trate da passagem desse para o outro mundo, a seleção de pessoas para este espaço é bem simples: tenha morrido recentemente, a pessoa ter uma história interessante de vida e, se não houver algo interessante a uma primeira vista, tenta-se descobrir algo ainda não conhecido.
Veja em edição nº 2134 (de 14/10/2009) publicou na seção "Datas" dois obituários, se é que assim podemos chamar, ao menos, um deles. O primeiro foi sobre o fotógrafo Irving Penn, famoso por seu trabalho na revista Vogue. Já o segundo, por ser tão curto e oco, mereceria uma pausada reflexão. Não vale o esforço em buscar palavras para falar do obituário de Mercedes Sosa no filtro de Veja. Prefiro transcrevê-lo in totum. Lá vai:
"Mercedes Sosa, a cantora do bumbo argentina. Dia 4, aos 74 anos, de doenças associadas ao subdesenvolvimento latino-americano, como o mal de Chagas, em Buenos Aires."
Mais burocrático? Impossível. Faltou apenas aquele contumaz acerto de palavras utilizado à larga em termo de declarações junto à autoridade policial: "E mais não disse; nem lhe foi perguntado".
Para uma revista que tanto bate o bumbo (olha o trocadilho) em sua publicidade institucional, dizendo ser leitura indispensável para os brasileiros, as 26 palavras e os 140 caracteres dedicadas àquela que é considerada a voz da América é a prova contundente do quão dispensável é a leitura de Veja. O leitor incauto ou medianamente informado que tome conhecimento da morte de Mercedes Sosa apenas por essas 26 palavras e esses calculadíssimos 140 caracteres (sem espaços) teria a impressão que a revista fala de alguém homônimo. Talvez uma artista mambembe desses muitos que levam alegria às pequenas cidades e vilarejos do Brasil profundo, trazendo sempre seu bumbo enfeitado de coloridas fitas do Nosso Senhor do Bonfim. Enfim, uma artista popular pouco conhecida da mídia em geral – seja esta pequena, média ou grande – que se apresenta em feiras populares em cidades como Caiçara do Rio dos Ventos (RN), Não me Toque (RS), Orlândia (SP), Campo Mourão (PR).
E, no entanto, Veja escrevia sobre Mercedes Sosa, aquela cantora embriagada de idealismo, encharcada do seu canto libertário e sempre mantendo pássaros soltos na garganta a nos comover com canções de Violeta Parra, de Victor Jarra, de Chico Buarque. Veja escrevia sobre a intérprete de Sueño con Serpientes, Años, Gracias a La Vida.
Mercedes Sosa teve muitos outros palcos. Em dezembro de 1994 cantou na Capela Sistina do Vaticano. Em fevereiro de 2002 ofereceu seu canto a um lotado Carnegie Hall em Nova York. Em maio de 2002 sua voz ecoou de dentro do Coliseu de Roma, ao lado de Ray Charles, momento em que fez um apelo apaixonado pela paz no Oriente Médio. Ela ganhou o Grammy Latino com o álbum Misa Criolla, em 2000, ganhou também o mesmo prêmio em 2003 com o Acústico e fechou o ciclo dos Grammys com o celebrado Corazon Libre, em 2006.
Gravou mais que 70 álbuns sendo que os últimos, Cantora 1 e Cantora 2, trazem uma coletânea de clássicos do folclore latino-americano interpretado por artistas contemporâneos como Shakira, Fito Paez, Julieta Venegas, Caetano Veloso, Joan Manuel Serrat, Joaquin Sabina, Lila Downs e Calle 13. Mas, para Veja, sua memória seria melhor lembrada como "a cantora do bumbo argentina". E sua singularíssima vida teria que ser para sempre ligada com o mal de Chagas, uma das "doenças associadas ao subdesenvolvimento latino-americano".
Voz eletrizante
Poucas vezes vi tanta acidez e intenção de ofender em texto tão curto e, ainda pior, em texto informando da morte de alguém. Será que a revista Veja desconhece completamente o Brasil, a ponto de entender que o povo brasileiro nunca ouviu falar de Mercedes Sosa? E se conhece o imaginário brasileiro devia saber que Mercedes fez muitos shows no Brasil, participou do antológico Chico & Caetano, produzido pela TV Globo em meados dos anos 1980, onde deixou registro memorável de Volver a los 17.
E não foi só. Ela gravou discos com Chico Buarque, com Milton Nascimento, Fagner e tantos outros artistas de longo curso em nossa história recente. Retratá-la como "Mercedes Sosa, a cantora do bumbo argentina" é ofensa gratuita com imensa legião de brasileiros que ama a América Latina, que ama música dessa parte da América, também de pessoas que amam ouvir a boa música. E Mercedes Sosa sabia cantar assim como Oscar Niemeyer sabia tirar de sua prancheta palácios e catedrais e Clarice Lispector sabia pegar asas de borboleta sem machucar.
Reconhecida como símbolo latino-americano e principal voz da música argentina, temos a sorte de termos aqui nesse mesmo continente subdesenvolvido e onde prolifera ainda o mal de Chagas de meios de comunicação realmente indispensáveis. "Morre Mercedes Sosa, a Voz de América Latina", foi este o título escolhido pelo diário espanhol El País para informar seus leitores da saída de cena de Mercedes Sosa. El País – o mais prestigioso e influente jornal publicado na Espanha – foi muito além do partidarismo tacanho que infesta boa parte de nossos veículos midiáticos. Recolho essa abertura do texto dedicado a Mercedes:
"Milhares de seguidores na América Latina e na Espanha (país onde esteve exilada quatro anos durante a ditadura militar argentina) cantaram com ela sua extraordinária interpretação de Alfonsina e o mar, e outros sambas, chacareras, milongas e toadas popularizaram nos anos 70 e 80 o folclore latino-americano em todo o mundo e a converteram em uma das melhores e mais famosas intérpretes do continente."
Outro destacado periódico espanhol, El Mundo, publicou com chamada em sua primeira página:
"Apagou-se a voz de uma das cantoras folclóricas mais reconhecidas da Argentina e de toda a América Latina. Mercedes Sosa, apelidada carinhosamente `a Negra´ ou a voz da América, morreu aos 74 anos depois de quase 60 anos no mundo da música".
O diário mexicano El Universal não apenas publicou extenso obituário como também abriu espaço para que os leitores expressassem seu amor por Sosa. Um desses emotivos testemunhos diz o seguinte: "Não se calará a cantora, Negra querida. Como a Cigarra, seguiremos dando Gracias a la Vida com Ela. E por Ela". A Folha de S.Paulo (665 palavras/3.397 caracteres) assinalou que "com uma carreira de mais de quatro décadas, Mercedes Sosa foi uma das vozes mais representativas da música popular argentina e da América latina".
E deu também no New York Times – e no mesmo dia de sua morte (4/10). A bíblia do jornalismo internacional publicou extenso obituário em seu sítio na web. O NYT resenhou a vida artística de Mercedes, chamou a atenção para suas muitas declarações publicadas nos meios jornalísticos e fez referência aos duros anos de seu exílio europeu. O NYT escreveu 868 palavras contendo 4.505 caracteres. Trocando em miúdos, o NYT multiplicou cada palavra publicada por Veja por 33. E não estou me referindo a jornal com sede e influência em Tegucigalpa, La Paz, Caracas ou Havana. Refiro-me ao New York Times, aquele jornal fundado em 18/9/1851 por Henry Jarvis Raymond e George Jones. Jarvis Raymond também auxiliou na fundação da Associated Press em 1856 e, já que nossa imprensa é tão autolouvatória, reforço que o New York Times ganhou seu primeiro Prêmio Pulitzer por reportagens e artigos sobre a Primeira Guerra Mundial, em 1918.
Aos inconformados com o obituário feito por Veja para Mercedes Sosa facilito aqui o acesso ao ótimo texto do jornal nova-iorquino. Adam Bernstein, jornalista do Washington Post, definiu "La Negra" como "uma cantora que emergiu como uma eletrizante voz da consciência permeando toda a América Latina para defender a justiça social em confronto com a repressão estatal".
Dobro do espaço
Desde a edição nº 2.115 (de 3/6/2009) até à nº 2134 (de 14/10/2009), a revista Veja publicou 44 obituários. São de 19 brasileiros e 25 estrangeiros. Dos estrangeiros, 16 são de nacionalidade norte-americana. Mortos ilustres que receberam mais espaço póstumo na publicação da Editora Abril foram a ex-presidente das Filipinas Corazón Aquino (203 palavras), o jornalista expoente do pensamento conservador norte-americano William Safire (201 palavras) e a atriz também norte-americana Farrah Fawcett (197 palavras). Sobre esta última, o longo texto traz este preciosismo (seria capaz de alterar a ordem natural dos planetas?):
"A atriz, cujo pôster, com a foto que se vê na página ao lado, rivalizou com o de Che Guevara nas paredes do quarto de adolescentes da segunda metade dos anos 70."
Alguns obituários, com o perdão da palavra que o assunto requer reverência, chegam a ser hilários. É o caso daquele de 45 palavras dedicado à atriz Brenda Joyce, "que interpretou Jane nos filmes de Tarzan da década de 40. Brenda atuou em cinco episódios do Rei das Selvas, nos quais contracenou com Johnny Weissmuller e Lex Barker. Dia 4, aos 92 anos, em consequência de pneumonia, em Santa Mônica".
Portanto, Jane do Tarzan tem quase o triplo do espaço concedido por Veja a Mercedes Sosa. Exemplo da dispensabilidade de Veja é o obituário publicado em sua edição nº 2.117 (de 17/6/2009) contendo 49 palavras sobre o gabonês Omar Bongo, ditador africano que mais tempo permaneceu no poder. Informa que "de 1967 em diante, o corrupto Bongo enriqueceu e ajudou a manter seu povo na miséria".
Outros são curiosos e só Deus sabe que bússola orienta (ou desorienta por completo) o responsável pelos obituários de Veja. Um destes é aquele em que a voz da vítima recebeu menos que um 1/3 de espaço nas páginas de Veja que aquele concedido à voz do torturador. Ambos argentinos, ambos contemporâneos. Refiro-me ao obituário da edição 2.129 (9/9/2009), com 81 palavras e 578 caracteres – tratando do ex-coronel do Exército argentino Mohamed Alí Seineldín, um dos maiores golpistas da atual democracia de seu país. Entre outras coisas destaca que o indigitado coronel "em 1988, liderou uma rebelião de militares que se auto-intitulavam caras-pintadas e que queriam evitar o julgamento de militares acusados de torturar e matar esquerdistas durante a ditadura".
Ainda na categoria dos que chamo "curiosos" temos na edição 2.115 (3/6/2009) obituário de uma criança de apenas 4 anos, que morreu acidentalmente ao brincar com uma esteira de corrida. Recebeu quase o dobro do espaço concedido a Mercedes Sosa. 49 palavras foram dedicadas à pequena Exodus Tyson, filha mais nova do ex-campeão de boxe Mike Tyson.
Alma latino-americana
Não sejamos ingênuos. A extrema parcimônia de Veja em negar espaço ao talento de uma mulher vibrante, encantadora de gerações de latino-americanos com palavras de ordem para resgatar a liberdade de opinião, liberdade de ir e vir e a liberdade de cantar deve-se mais ao pesado fardo ideológico carregado pela revsita. Afinal, sua versão para Gracias a la Vida, de Violeta Parra, tornou-se hino para os esquerdistas de todo o mundo nas décadas de 1970 e 1980, quando ela se viu obrigada a exilar-se e seus discos foram proibidos.
Nas incendiarias décadas de 1960 e 1970, Sosa foi expoente maior do "Nuevo Cancionero", movimento altamente politizado que tratou de levar a música popular de volta a suas raízes. Ainda mais motivos para as escassas 26 palavras e 140 caracteres utilizados por Veja para retratar os 74 bem vividos anos de Mercedes Sosa? Bem, ela também integrou o Partido Comunista e suas posições políticas lhe trouxeram problemas durante a sangrenta ditadura militar argentina (1976-1983), na qual milhares de pessoas morreram com a repressão aos dissidentes de esquerda.
E por que o obituarista de Veja não mencionou uma palavra sobre seu exílio europeu? Essa é fácil. É pra lá de conhecido que os censores do Estado argentino proibiram canções de Sosa, e ela foi para a Europa em 1979, depois de ser detida durante um concerto na cidade de La Plata. Mercedes Sosa se definia com frequência como uma mulher de esquerda, ainda que sempre lembrava ter vocação para a música. Em uma entrevista publicada em 2005 ela afirmou que "na realidade, eu nasci para cantar; minha vida está dedicada a cantar, a buscar canções e a cantá-las", e também que "se entrasse em política, teria que descuidar do mais importante para mim, que é o folclore".
O carro-chefe da Editora Abril há muito vem investindo contra algo que seja genuinamente latino-americano. Em sua edição nº 2.028 (de 3/10/2007), publicou longo texto sobre o Che Guevara. A chamada da sombria capa não deixava por menos "Che – Há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa". Dezoito meses depois, em sua edição 2.110 (29/4/2009), a propósito de o presidente venezuelano Hugo Chávez haver presenteado o presidente norte-americano Barack Obama com exemplar do As veias abertas da América Latina, o texto da revista disparava:
"As Veias Abertas da América Latina é um livro errado desde as primeiras letras, uma coleção de lamúrias e desastres em busca de culpados. Pouco importa que os fatos desmintam sua tese. Para as esquerdas, mais importante é a moral da história. Na de Eduardo Galeano, o lobo, como sempre, come o cordeiro".
Com esse tipo de texto conseguirá a Veja deixar de ser dispensável?
Nos últimos anos de sua vida, após o fim da safra de ditaduras na América do Sul, Mercedes continuou lutando através de canções e apresentações mundo afora pelo fim da pobreza, valorizando as emoções universais como o amor, a justiça e a liberdade. Para seu sobrinho, o músico Chucho Sosa, tia Mercedes "é o melhor exemplo de honestidade artística, pois sua música reflete sua vida por inteiro".
Além de tocar bumbo contra as ditaduras ela ganhou muitos prêmios. Sobre estes foi certeira, direta ao ponto:
"Esses prêmios que ganhei não são prêmios só porque eu canto, mas porque penso, penso nos seres humanos, na injustiça. Acho que, se eu não pensasse assim, meu destino teria sido outro".
A cidade de Buenos Aires suspendeu todas as atividades artísticas no domingo (4/10). Isso incluiu o adiamento da vasta programação prevista para celebrar o fato que o tango, no dia anterior, fora declarado pelas Nações Unidas como parte da "herança cultural do mundo".
Pelo jeito Mercedes ainda vai bater seu bumbo por longo, longuíssimo tempo. É que o som do bumbo, em seu caso, toca de forma profunda a alma deste continente.
Mais não disse nem lhe foi perguntado
Por Washington Araújo em 20/10/2009 em Observatório da imprensa(site)
A revista Veja parece ter perdido a mão, se é que podemos dizer assim, quando o assunto é tratar de mortos. Em certa medida isso ilustra bem a tese defendida por alguns sociólogos de que a cultura brasileira não lida bem com a morte, que em nossa tradição judaico-cristã a morte se transmuta em silêncio e dor. E aqui uma contradição paralisante: mesmo sofrendo com a partida de uma pessoa não devemos nos sentir impedidos de celebrar, de colocar em alto relevo fatos importantes relacionados à vida de uma pessoa.
Preguiça mental é o mesmo que falta de pesquisa, empenho sobre o assunto a ser publicado. Parece que Veja descuidou por completo a assertiva dando conta que não se faz um bom obituário sem os fatos da vida da pessoa. Redigir um obituário que se ponha de pé exige ir atrás, fazer entrevistas, conversar com parentes, entrevistar amigos.
Há o precedente da excelência na arte de escrever obituários. Chamo de precedente por ser prática pioneira do New York Times, entrevistar o próprio obituariado, quando há tempo, quando se pega em vida. E essa prática do NYT remonta ao início dos anos 1960 e o objetivo desde então continua o mesmo: esclarecer ou conferir a exatidão de fatos obscuros sobre a vida do personagem. Obituário é, portanto, coisa séria e jamais deveria ocorrer de forma leviana ou inconseqüente como alguém que envia mensagem por Twitter avisando a morte de alguém. Nesse ponto, Veja e a linguagem-twitter convergem quando se trata de Mercedes Sosa – 140 caracteres no máximo, nem mais, nem menos.
Coleção de clássicos
Nos países anglo-saxões os obituários de jornais e revistas são, em geral, reconhecidos como os textos mais bem escritos do jornalismo. Estudiosos de jornalismo já ouviram falar de jornalistas como Robert McG Thomas e Alden Whitman, conhecido como "Mr. Bad News" e imortalizado por Gay Talese no livro Aos Olhos da multidão. McG e Whitman ficaram conhecidos por terem um texto saboroso, que os aproxima muito do jornalismo literário, embora trate sempre da morte e, de alguma forma, renda tributo à tristeza ou ao início de uma saudade sem fim.
Qual o critério adotado para selecionar as pessoas que estarão no obituário? Embora trate da passagem desse para o outro mundo, a seleção de pessoas para este espaço é bem simples: tenha morrido recentemente, a pessoa ter uma história interessante de vida e, se não houver algo interessante a uma primeira vista, tenta-se descobrir algo ainda não conhecido.
Veja em edição nº 2134 (de 14/10/2009) publicou na seção "Datas" dois obituários, se é que assim podemos chamar, ao menos, um deles. O primeiro foi sobre o fotógrafo Irving Penn, famoso por seu trabalho na revista Vogue. Já o segundo, por ser tão curto e oco, mereceria uma pausada reflexão. Não vale o esforço em buscar palavras para falar do obituário de Mercedes Sosa no filtro de Veja. Prefiro transcrevê-lo in totum. Lá vai:
"Mercedes Sosa, a cantora do bumbo argentina. Dia 4, aos 74 anos, de doenças associadas ao subdesenvolvimento latino-americano, como o mal de Chagas, em Buenos Aires."
Mais burocrático? Impossível. Faltou apenas aquele contumaz acerto de palavras utilizado à larga em termo de declarações junto à autoridade policial: "E mais não disse; nem lhe foi perguntado".
Para uma revista que tanto bate o bumbo (olha o trocadilho) em sua publicidade institucional, dizendo ser leitura indispensável para os brasileiros, as 26 palavras e os 140 caracteres dedicadas àquela que é considerada a voz da América é a prova contundente do quão dispensável é a leitura de Veja. O leitor incauto ou medianamente informado que tome conhecimento da morte de Mercedes Sosa apenas por essas 26 palavras e esses calculadíssimos 140 caracteres (sem espaços) teria a impressão que a revista fala de alguém homônimo. Talvez uma artista mambembe desses muitos que levam alegria às pequenas cidades e vilarejos do Brasil profundo, trazendo sempre seu bumbo enfeitado de coloridas fitas do Nosso Senhor do Bonfim. Enfim, uma artista popular pouco conhecida da mídia em geral – seja esta pequena, média ou grande – que se apresenta em feiras populares em cidades como Caiçara do Rio dos Ventos (RN), Não me Toque (RS), Orlândia (SP), Campo Mourão (PR).
E, no entanto, Veja escrevia sobre Mercedes Sosa, aquela cantora embriagada de idealismo, encharcada do seu canto libertário e sempre mantendo pássaros soltos na garganta a nos comover com canções de Violeta Parra, de Victor Jarra, de Chico Buarque. Veja escrevia sobre a intérprete de Sueño con Serpientes, Años, Gracias a La Vida.
Mercedes Sosa teve muitos outros palcos. Em dezembro de 1994 cantou na Capela Sistina do Vaticano. Em fevereiro de 2002 ofereceu seu canto a um lotado Carnegie Hall em Nova York. Em maio de 2002 sua voz ecoou de dentro do Coliseu de Roma, ao lado de Ray Charles, momento em que fez um apelo apaixonado pela paz no Oriente Médio. Ela ganhou o Grammy Latino com o álbum Misa Criolla, em 2000, ganhou também o mesmo prêmio em 2003 com o Acústico e fechou o ciclo dos Grammys com o celebrado Corazon Libre, em 2006.
Gravou mais que 70 álbuns sendo que os últimos, Cantora 1 e Cantora 2, trazem uma coletânea de clássicos do folclore latino-americano interpretado por artistas contemporâneos como Shakira, Fito Paez, Julieta Venegas, Caetano Veloso, Joan Manuel Serrat, Joaquin Sabina, Lila Downs e Calle 13. Mas, para Veja, sua memória seria melhor lembrada como "a cantora do bumbo argentina". E sua singularíssima vida teria que ser para sempre ligada com o mal de Chagas, uma das "doenças associadas ao subdesenvolvimento latino-americano".
Voz eletrizante
Poucas vezes vi tanta acidez e intenção de ofender em texto tão curto e, ainda pior, em texto informando da morte de alguém. Será que a revista Veja desconhece completamente o Brasil, a ponto de entender que o povo brasileiro nunca ouviu falar de Mercedes Sosa? E se conhece o imaginário brasileiro devia saber que Mercedes fez muitos shows no Brasil, participou do antológico Chico & Caetano, produzido pela TV Globo em meados dos anos 1980, onde deixou registro memorável de Volver a los 17.
E não foi só. Ela gravou discos com Chico Buarque, com Milton Nascimento, Fagner e tantos outros artistas de longo curso em nossa história recente. Retratá-la como "Mercedes Sosa, a cantora do bumbo argentina" é ofensa gratuita com imensa legião de brasileiros que ama a América Latina, que ama música dessa parte da América, também de pessoas que amam ouvir a boa música. E Mercedes Sosa sabia cantar assim como Oscar Niemeyer sabia tirar de sua prancheta palácios e catedrais e Clarice Lispector sabia pegar asas de borboleta sem machucar.
Reconhecida como símbolo latino-americano e principal voz da música argentina, temos a sorte de termos aqui nesse mesmo continente subdesenvolvido e onde prolifera ainda o mal de Chagas de meios de comunicação realmente indispensáveis. "Morre Mercedes Sosa, a Voz de América Latina", foi este o título escolhido pelo diário espanhol El País para informar seus leitores da saída de cena de Mercedes Sosa. El País – o mais prestigioso e influente jornal publicado na Espanha – foi muito além do partidarismo tacanho que infesta boa parte de nossos veículos midiáticos. Recolho essa abertura do texto dedicado a Mercedes:
"Milhares de seguidores na América Latina e na Espanha (país onde esteve exilada quatro anos durante a ditadura militar argentina) cantaram com ela sua extraordinária interpretação de Alfonsina e o mar, e outros sambas, chacareras, milongas e toadas popularizaram nos anos 70 e 80 o folclore latino-americano em todo o mundo e a converteram em uma das melhores e mais famosas intérpretes do continente."
Outro destacado periódico espanhol, El Mundo, publicou com chamada em sua primeira página:
"Apagou-se a voz de uma das cantoras folclóricas mais reconhecidas da Argentina e de toda a América Latina. Mercedes Sosa, apelidada carinhosamente `a Negra´ ou a voz da América, morreu aos 74 anos depois de quase 60 anos no mundo da música".
O diário mexicano El Universal não apenas publicou extenso obituário como também abriu espaço para que os leitores expressassem seu amor por Sosa. Um desses emotivos testemunhos diz o seguinte: "Não se calará a cantora, Negra querida. Como a Cigarra, seguiremos dando Gracias a la Vida com Ela. E por Ela". A Folha de S.Paulo (665 palavras/3.397 caracteres) assinalou que "com uma carreira de mais de quatro décadas, Mercedes Sosa foi uma das vozes mais representativas da música popular argentina e da América latina".
E deu também no New York Times – e no mesmo dia de sua morte (4/10). A bíblia do jornalismo internacional publicou extenso obituário em seu sítio na web. O NYT resenhou a vida artística de Mercedes, chamou a atenção para suas muitas declarações publicadas nos meios jornalísticos e fez referência aos duros anos de seu exílio europeu. O NYT escreveu 868 palavras contendo 4.505 caracteres. Trocando em miúdos, o NYT multiplicou cada palavra publicada por Veja por 33. E não estou me referindo a jornal com sede e influência em Tegucigalpa, La Paz, Caracas ou Havana. Refiro-me ao New York Times, aquele jornal fundado em 18/9/1851 por Henry Jarvis Raymond e George Jones. Jarvis Raymond também auxiliou na fundação da Associated Press em 1856 e, já que nossa imprensa é tão autolouvatória, reforço que o New York Times ganhou seu primeiro Prêmio Pulitzer por reportagens e artigos sobre a Primeira Guerra Mundial, em 1918.
Aos inconformados com o obituário feito por Veja para Mercedes Sosa facilito aqui o acesso ao ótimo texto do jornal nova-iorquino. Adam Bernstein, jornalista do Washington Post, definiu "La Negra" como "uma cantora que emergiu como uma eletrizante voz da consciência permeando toda a América Latina para defender a justiça social em confronto com a repressão estatal".
Dobro do espaço
Desde a edição nº 2.115 (de 3/6/2009) até à nº 2134 (de 14/10/2009), a revista Veja publicou 44 obituários. São de 19 brasileiros e 25 estrangeiros. Dos estrangeiros, 16 são de nacionalidade norte-americana. Mortos ilustres que receberam mais espaço póstumo na publicação da Editora Abril foram a ex-presidente das Filipinas Corazón Aquino (203 palavras), o jornalista expoente do pensamento conservador norte-americano William Safire (201 palavras) e a atriz também norte-americana Farrah Fawcett (197 palavras). Sobre esta última, o longo texto traz este preciosismo (seria capaz de alterar a ordem natural dos planetas?):
"A atriz, cujo pôster, com a foto que se vê na página ao lado, rivalizou com o de Che Guevara nas paredes do quarto de adolescentes da segunda metade dos anos 70."
Alguns obituários, com o perdão da palavra que o assunto requer reverência, chegam a ser hilários. É o caso daquele de 45 palavras dedicado à atriz Brenda Joyce, "que interpretou Jane nos filmes de Tarzan da década de 40. Brenda atuou em cinco episódios do Rei das Selvas, nos quais contracenou com Johnny Weissmuller e Lex Barker. Dia 4, aos 92 anos, em consequência de pneumonia, em Santa Mônica".
Portanto, Jane do Tarzan tem quase o triplo do espaço concedido por Veja a Mercedes Sosa. Exemplo da dispensabilidade de Veja é o obituário publicado em sua edição nº 2.117 (de 17/6/2009) contendo 49 palavras sobre o gabonês Omar Bongo, ditador africano que mais tempo permaneceu no poder. Informa que "de 1967 em diante, o corrupto Bongo enriqueceu e ajudou a manter seu povo na miséria".
Outros são curiosos e só Deus sabe que bússola orienta (ou desorienta por completo) o responsável pelos obituários de Veja. Um destes é aquele em que a voz da vítima recebeu menos que um 1/3 de espaço nas páginas de Veja que aquele concedido à voz do torturador. Ambos argentinos, ambos contemporâneos. Refiro-me ao obituário da edição 2.129 (9/9/2009), com 81 palavras e 578 caracteres – tratando do ex-coronel do Exército argentino Mohamed Alí Seineldín, um dos maiores golpistas da atual democracia de seu país. Entre outras coisas destaca que o indigitado coronel "em 1988, liderou uma rebelião de militares que se auto-intitulavam caras-pintadas e que queriam evitar o julgamento de militares acusados de torturar e matar esquerdistas durante a ditadura".
Ainda na categoria dos que chamo "curiosos" temos na edição 2.115 (3/6/2009) obituário de uma criança de apenas 4 anos, que morreu acidentalmente ao brincar com uma esteira de corrida. Recebeu quase o dobro do espaço concedido a Mercedes Sosa. 49 palavras foram dedicadas à pequena Exodus Tyson, filha mais nova do ex-campeão de boxe Mike Tyson.
Alma latino-americana
Não sejamos ingênuos. A extrema parcimônia de Veja em negar espaço ao talento de uma mulher vibrante, encantadora de gerações de latino-americanos com palavras de ordem para resgatar a liberdade de opinião, liberdade de ir e vir e a liberdade de cantar deve-se mais ao pesado fardo ideológico carregado pela revsita. Afinal, sua versão para Gracias a la Vida, de Violeta Parra, tornou-se hino para os esquerdistas de todo o mundo nas décadas de 1970 e 1980, quando ela se viu obrigada a exilar-se e seus discos foram proibidos.
Nas incendiarias décadas de 1960 e 1970, Sosa foi expoente maior do "Nuevo Cancionero", movimento altamente politizado que tratou de levar a música popular de volta a suas raízes. Ainda mais motivos para as escassas 26 palavras e 140 caracteres utilizados por Veja para retratar os 74 bem vividos anos de Mercedes Sosa? Bem, ela também integrou o Partido Comunista e suas posições políticas lhe trouxeram problemas durante a sangrenta ditadura militar argentina (1976-1983), na qual milhares de pessoas morreram com a repressão aos dissidentes de esquerda.
E por que o obituarista de Veja não mencionou uma palavra sobre seu exílio europeu? Essa é fácil. É pra lá de conhecido que os censores do Estado argentino proibiram canções de Sosa, e ela foi para a Europa em 1979, depois de ser detida durante um concerto na cidade de La Plata. Mercedes Sosa se definia com frequência como uma mulher de esquerda, ainda que sempre lembrava ter vocação para a música. Em uma entrevista publicada em 2005 ela afirmou que "na realidade, eu nasci para cantar; minha vida está dedicada a cantar, a buscar canções e a cantá-las", e também que "se entrasse em política, teria que descuidar do mais importante para mim, que é o folclore".
O carro-chefe da Editora Abril há muito vem investindo contra algo que seja genuinamente latino-americano. Em sua edição nº 2.028 (de 3/10/2007), publicou longo texto sobre o Che Guevara. A chamada da sombria capa não deixava por menos "Che – Há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa". Dezoito meses depois, em sua edição 2.110 (29/4/2009), a propósito de o presidente venezuelano Hugo Chávez haver presenteado o presidente norte-americano Barack Obama com exemplar do As veias abertas da América Latina, o texto da revista disparava:
"As Veias Abertas da América Latina é um livro errado desde as primeiras letras, uma coleção de lamúrias e desastres em busca de culpados. Pouco importa que os fatos desmintam sua tese. Para as esquerdas, mais importante é a moral da história. Na de Eduardo Galeano, o lobo, como sempre, come o cordeiro".
Com esse tipo de texto conseguirá a Veja deixar de ser dispensável?
Nos últimos anos de sua vida, após o fim da safra de ditaduras na América do Sul, Mercedes continuou lutando através de canções e apresentações mundo afora pelo fim da pobreza, valorizando as emoções universais como o amor, a justiça e a liberdade. Para seu sobrinho, o músico Chucho Sosa, tia Mercedes "é o melhor exemplo de honestidade artística, pois sua música reflete sua vida por inteiro".
Além de tocar bumbo contra as ditaduras ela ganhou muitos prêmios. Sobre estes foi certeira, direta ao ponto:
"Esses prêmios que ganhei não são prêmios só porque eu canto, mas porque penso, penso nos seres humanos, na injustiça. Acho que, se eu não pensasse assim, meu destino teria sido outro".
A cidade de Buenos Aires suspendeu todas as atividades artísticas no domingo (4/10). Isso incluiu o adiamento da vasta programação prevista para celebrar o fato que o tango, no dia anterior, fora declarado pelas Nações Unidas como parte da "herança cultural do mundo".
Pelo jeito Mercedes ainda vai bater seu bumbo por longo, longuíssimo tempo. É que o som do bumbo, em seu caso, toca de forma profunda a alma deste continente.
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Projeto Cururu
Parabéns para o projeto Cururu, coordenado pelo nosso amigo Frei Juraci, pároco de Sto. Antonio de Lisboa.
O Cururu assiste 140 crianças e adolescentes atendidos com ensino gratuito de teoria musical, violino, viola, violoncelo, contrabaixo, flauta doce, clarinete, canto e dança, integrados através dos corais Infantil e Juvenil, Grupo de Flautas e Orquestra Jovem.
Ficamos sabendo que está sendo feita articulação junto ao Sebrae para viabilizar assistência técnica e financiamento para a instalação de cooperativa que beneficiará a família das 140 crianças atendidas pelo projeto.
Apesar da humilde audiência deste blog, também nos juntamos aos esforços do projeto e pedimos que se divulgue essa iniciativa, além de que, quem puder, doe cordas para os instrumentos musicais; breus, crinas, arcos e palhetas para clarinete; sapatilhas e malhas de balé para a faixa etária de 7 a 12 anos; cadernos de música e lousa - preferencialmente de vidro, para uso com pincel próprio -, além de instrumentos de cordas da família dos violinos. Segundo minha fonte ( blog Uruatapera) os contatos devem ser feitos com o maestro Jonas Arraes. Contatos: jonasarraes@oi.com.br; (91) 88668869 e (91) 30835968.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
CASA DE ANIVERSARIANTE, ESPETO DE PAU
Aproveitando o embalo das notícias de aniversário, quero relatar nesta coluna social um aniversário para lá de animado ocorrido em agosto e que não foi comentado neste blog: o aniversário do Guilherme, marido da Nen. E não é que o aniversário dele também teve dois dias seguidos de comemoração? Por incrível que pareça no sábado 22 de agosto pelas 9 da manhã as caixas de gelada começaram a chegar na serraria. Conversa vai, cerveja vem, lá pelas tantas da noite, a Nen, já muito enfezada, vai dormir. Domingo, 23, dia seguinte... Lá vem o frei com um quarto de boi para o churrasco... Conversa vai, conversa vem, segundo dia de comemoração na casa mais badalada da F. Guilhon.... Lá pelas tantas da noite, a Nen, já muito mordida, resolve dormir... 3 horas da madrugada da segunda-feira, dia 24 de agosto... Os cachorros na maior algazarra, tomando os restos da cerveja esquecida pelos cantos da serraria.... Maior cachorrada... maior latidagem... A Nen cutuca o Guilherme:
_ Acorda! Acorda! Que os cachorros tão caindo de porre lá embaixo... Vai acabar com essa cachorrada!!! O Guilherme, olhando com uma banda de olho para a tv, verifica que na frente de casa não tem ninguém mexendo com os cachorros. Volta a dormir.... Os cachorros insistem nos latidos. A Nen, já muito mordida resolve abrir a janela do quarto superior e TCHARAN!!! Surpresa!!! Vira-se para o maridão zonzo de sono e diz:
- Olha, Guilherme, tudo bem que tu tenhas que comemorar dois dias seguidos teu aniversário, tomar todas as cervejas com teus amigos do trabalho e da igreja, mas... PRECISAVAM LARGAR AS CADEIRAS E O CARRINHO DE MÃO EM CIMA DO TELHADO DA CASA DO FREI???
Ao que o Guilherme gritou: LAAAADRÃÃÃOOOOOO!!!!!! Ainda tentou atingir o meliante que se espreitava no telhado do frei, mas, que pena, as balas estavam todas frias.....
Eu juro que isso foi real!
_ Acorda! Acorda! Que os cachorros tão caindo de porre lá embaixo... Vai acabar com essa cachorrada!!! O Guilherme, olhando com uma banda de olho para a tv, verifica que na frente de casa não tem ninguém mexendo com os cachorros. Volta a dormir.... Os cachorros insistem nos latidos. A Nen, já muito mordida resolve abrir a janela do quarto superior e TCHARAN!!! Surpresa!!! Vira-se para o maridão zonzo de sono e diz:
- Olha, Guilherme, tudo bem que tu tenhas que comemorar dois dias seguidos teu aniversário, tomar todas as cervejas com teus amigos do trabalho e da igreja, mas... PRECISAVAM LARGAR AS CADEIRAS E O CARRINHO DE MÃO EM CIMA DO TELHADO DA CASA DO FREI???
Ao que o Guilherme gritou: LAAAADRÃÃÃOOOOOO!!!!!! Ainda tentou atingir o meliante que se espreitava no telhado do frei, mas, que pena, as balas estavam todas frias.....
Eu juro que isso foi real!
A vela era do Paraguai
O aniversário da Naza foi divertido, agradável, com doces, salgadinhos e aquela boa comida. A vela não queria ascender e por isso cantamos por quase 30min os seus parabéns. Haja energia, mas ela merece. Felicidades para a Naza e toda a sua família. Sempre fica alguma pra contar e ficar na saudade...
Márcia (SAL)
Márcia (SAL)
Coluna social
Sucesso social da noite de ontem, o banquete de aniversário da Nen(Nazaré). Estiveram presentes muitos convidados VIP'S.
Teve show do Sayonara e Aviões do Forró. Teve até representante do Vaticano na festa que discorreu sobre as virtudes da homenageada.
A aniversariante dançou a valsa tecno-brega com o Guilherme e o André.
Não vou mentir, nem omitir, quando fui embora, sai levando à tiracolo, um pote de margarina da yamada cheio de vatapá prá casa. Só não levei salgadinho e bolo prá tomar com café no outro dia.
Teve show do Sayonara e Aviões do Forró. Teve até representante do Vaticano na festa que discorreu sobre as virtudes da homenageada.
A aniversariante dançou a valsa tecno-brega com o Guilherme e o André.
Não vou mentir, nem omitir, quando fui embora, sai levando à tiracolo, um pote de margarina da yamada cheio de vatapá prá casa. Só não levei salgadinho e bolo prá tomar com café no outro dia.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
sábado, 10 de outubro de 2009
Meu guri - Crônica da semana - Raimundo Sodré
A mãe, quando entrevistada, disse que para ela, o menino estava indo normalmente ao colégio. Dia desses, é que foi saber das aprontações do filho (quando já havia mais de três meses que o garoto sequer passava pela frente da escola. Nem para a merenda ele se abalava). Ao perceber que o menino andava metido com uma camaradagem barra-pesada, a mãe deu uma prensa. Ele adiantou que tinha uma necessidade urgente (uma roupa nova, um tênis, um celular que blutufa, coisas com este status de precisão), que faria somente mais um assalto e depois abandonaria aquela vida.
Naquele dia, subiu no ônibus trajando o uniforme da escola (o que , em tese, o isentava de suspeitas mais severas) e, de posse de uma faca daquelas domésticas com cabo de madeira, anunciou o assalto. O que aconteceu depois foi uma cena de natureza incontestavelmente primitiva, imponderavelmente selvagem.
(Na internet, leio na íntegra, a descrição do linchamento do adolescente.
E lembro agora que quando vim aqui para a coluna, meu amigo me disse: “vais escrever na coluna Bom Dia. Vais começar o dia dos leitores. Alto astral, se possível. Inspiração, bons fluidos, bom humor e otimismo. Não me vem com choradeira, cara, o nome da coluna é Bom Dia”! Menti e falei “tá”. Agora, enquanto leio sobre a morte daquele guri, as lágrimas não me deixam escrever. Caem sobre a concavidade da lente dos meus óculos, embaçam a visão, despencam sobre as reentrâncias do teclado. Quanto mais adentro na história do menino, o meu coração se agita, minha garganta geme e meu espírito sofre. Ah, desculpem-me, leitores. Perdoe-me, querido Edir Gaya, se estou trairando, se neste sábado do Círio, subverto a nossa combina, mas não resisto a este golpe. O meu ‘eu’ salesiano me volta cobrando - e eu sei que aqueles tempos de salesiano também te cobram, Gaya - uma dedicação maior aos jovens. Me vem à lembrança aquele painel que o padre Lourenço tinha na sala dele com as fotos dos garotos que ele ‘perdeu’. Quantos daqueles jovens, nós conhecíamos. Jogavam spiribol no oratório, eram colegas lá da oitava, discretos e retraídos membros da “Perseverança” ou, simplesmente, meninos que rompiam, sem cerimônia nenhuma, a fronteira entre a Sacramenta e a Pedreira pelas estivas instáveis da Pedro Miranda, escondido das mães.
Resgato lá dos idos de oitenta e poucos a tia Tiba com o seu trabalho comunitário na passagem H e a legião de garotos que ela acompanhou durante tantos anos. Torno à República do Pequeno Vendedor, à Noemy, aos meninos da ‘Toca do Morcego’ e àquele restaurante que funcionava lá no Carmo. Penso na mãe do garoto. Porque às vezes a gente acha que estes meninos que aparecem nas manchetes de jornais não têm mãe. Mas têm sim e sofrem muito mais que qualquer um de nós que se compadece intempestivamente.
Sei que tenho uma responsa aqui. Alguém pode pensar “éraste, o Sodré tá sendo passional. Poderia contribuir com uma versão racional para esta história”. Verdade. Poderia dar um teco no governo, na polícia, no ECA... Perdi amigo-irmão naquela área. Tenho motivos para aprofundar o tema. Mas não hoje. Antes preciso cobrar de mim mesmo que tenho meus pequenos que moram e estudam em Belém, enquanto eu mato um leão por dia como operário aqui em Barcarena; e que saudade me vem deles agora, uma vontade de abraçá-los, acarinhá-los; uma vontade de encontrá-los para dizer a eles que eu os amo e que vou lutar por eles o tanto que possa...
Agora, para abrandar este desassossego que sinto, rogo à Mãe de Deus, mesmo que seja entre parêntesis, que olhe pelos nossos ‘guris’, os guarde e os proteja).
Naquele dia, subiu no ônibus trajando o uniforme da escola (o que , em tese, o isentava de suspeitas mais severas) e, de posse de uma faca daquelas domésticas com cabo de madeira, anunciou o assalto. O que aconteceu depois foi uma cena de natureza incontestavelmente primitiva, imponderavelmente selvagem.
(Na internet, leio na íntegra, a descrição do linchamento do adolescente.
E lembro agora que quando vim aqui para a coluna, meu amigo me disse: “vais escrever na coluna Bom Dia. Vais começar o dia dos leitores. Alto astral, se possível. Inspiração, bons fluidos, bom humor e otimismo. Não me vem com choradeira, cara, o nome da coluna é Bom Dia”! Menti e falei “tá”. Agora, enquanto leio sobre a morte daquele guri, as lágrimas não me deixam escrever. Caem sobre a concavidade da lente dos meus óculos, embaçam a visão, despencam sobre as reentrâncias do teclado. Quanto mais adentro na história do menino, o meu coração se agita, minha garganta geme e meu espírito sofre. Ah, desculpem-me, leitores. Perdoe-me, querido Edir Gaya, se estou trairando, se neste sábado do Círio, subverto a nossa combina, mas não resisto a este golpe. O meu ‘eu’ salesiano me volta cobrando - e eu sei que aqueles tempos de salesiano também te cobram, Gaya - uma dedicação maior aos jovens. Me vem à lembrança aquele painel que o padre Lourenço tinha na sala dele com as fotos dos garotos que ele ‘perdeu’. Quantos daqueles jovens, nós conhecíamos. Jogavam spiribol no oratório, eram colegas lá da oitava, discretos e retraídos membros da “Perseverança” ou, simplesmente, meninos que rompiam, sem cerimônia nenhuma, a fronteira entre a Sacramenta e a Pedreira pelas estivas instáveis da Pedro Miranda, escondido das mães.
Resgato lá dos idos de oitenta e poucos a tia Tiba com o seu trabalho comunitário na passagem H e a legião de garotos que ela acompanhou durante tantos anos. Torno à República do Pequeno Vendedor, à Noemy, aos meninos da ‘Toca do Morcego’ e àquele restaurante que funcionava lá no Carmo. Penso na mãe do garoto. Porque às vezes a gente acha que estes meninos que aparecem nas manchetes de jornais não têm mãe. Mas têm sim e sofrem muito mais que qualquer um de nós que se compadece intempestivamente.
Sei que tenho uma responsa aqui. Alguém pode pensar “éraste, o Sodré tá sendo passional. Poderia contribuir com uma versão racional para esta história”. Verdade. Poderia dar um teco no governo, na polícia, no ECA... Perdi amigo-irmão naquela área. Tenho motivos para aprofundar o tema. Mas não hoje. Antes preciso cobrar de mim mesmo que tenho meus pequenos que moram e estudam em Belém, enquanto eu mato um leão por dia como operário aqui em Barcarena; e que saudade me vem deles agora, uma vontade de abraçá-los, acarinhá-los; uma vontade de encontrá-los para dizer a eles que eu os amo e que vou lutar por eles o tanto que possa...
Agora, para abrandar este desassossego que sinto, rogo à Mãe de Deus, mesmo que seja entre parêntesis, que olhe pelos nossos ‘guris’, os guarde e os proteja).
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Aniversário do Anderson
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Do Xapuri ao arquivil - Crônica da semana - Raimundo Sodré
Em 2007, publiquei uma crônica lembrando o Dia do Geólogo. Foi uma forma de homenagear a garotada do meu curso, mas também de prestar tributo aos profissionais a quem me apeguei quando me batia no ofício de Técnico em Mineração (uma profissão um tanto discreta, diga-se. Pouco compreendida, mas que teve seus quinze minutos de fama no curta-metragem “Dias”, do paraense Fernando Segtowich, onde o atormentado personagem principal, interpretado pelo ator Adriano Barroso, é colega de profissão).
Na crônica, citei alguns geólogos que estiveram presentes no batente, como orientadores ou como companheiros nos porres homéricos pela solidão das noites amazônicas.
Por coincidência, exatamente no dia em que a crônica saiu na coluna, fazia uma conexão em Belém, o geólogo Alcídio Pinheiro Ribeiro.
“Dias” depois, recebi um e-mail do Alcídio comentando a coincidência, celebrando o nosso reencontro (havia mais de 10 anos que não tínhamos notícia um do outro) e externando seu descontentamento por não ter sido citado na crônica.
Reclamou com razão. Inclusive com argumentos literários. À crônica, cabe o registro contextual e emocional dos fatos. E não tive o cuidado, na ocasião, de inserir o Xapiru no texto. Mas me justifico dizendo que o Alcídio, em poucas oportunidades esteve presente. Eu convivi mais com o Xapiru. Esta a questão: para integrá-lo ao texto, teria que explicar o porquê do apelido, o que me levaria um bocadão de espaço aqui na coluna...
Quando o ‘Alcídio’ (que para mim, hoje, é um novo amigo) chegou em Rondônia, havia o fato curioso de termos, na mesma empresa um geólogo e um técnico naturais do Xapuri, no Acre (o que convenhamos, era um fato raríssimo, primeiro porque a maioria dos acreanos ali, era peão; segundo, dois graduados acreanos no mesmo canto? Huummm...Acreanos?...). O técnico era eu e o geólogo, o ‘conterra’, Roberto Matias. Alcídio sacou aquele fato inusitado e além de identificar a curiosidade, zombava da gente por causa do nome da nossa cidade natal. Fazia questão de errar a pronúncia. E, conscientemente, falava Xapiru, quando se referia ao nosso querido Xapuri. Pra quê... Logo, o feitiço virou contra o feiticeiro e o neologismo Xapiru, passou a ser nome próprio com a missão única de identificá-lo. Então, já sabe, quando eu mencionar aqui, o Xapiru, queiram entender o, agora doutorando, Alcídio Pinheiro Ribeiro.
Mas, meu querido Xapiru, não podemos nos ater às veleidades. Uma crônica, segundo os teóricos, desmorona sob o peso da temporalidade. Não resiste a um ‘day after’ (embora eu saiba que não é bem assim. Muita gente recorta e guarda o texto, comenta no dia seguinte, manda e-mail...). O certo é que uma crônica tem limites e objeções. Não encerra em si, toda a verdade (e às vezes está mesmo é apinhada de férteis mentiras).
A verdade é que, na universidade, sempre falo no Xapiru. Agora, os meninos, para fazer um mapinha recorrem aos programas mais avançados. Relato aos colegas que naqueles tempos, o Xapiru dissertava traços elegantes sobre o vegetal, sobrepunha perfis com engenhosidade e reconstruía o interior da Terra com uma imaginação invejável. Era um artista admirável. Dotava de um certo charme, a sintaxe geológica. Botava, com larga facilidade, qualquer arcmap no bolso. A ele, bastava uma nanquim, um par de esquadros, uma caixa de lápis de cor e pronto, a gente desvendava, de prima, os esconderijos secretos dos vis metais.
Hoje, constatei, domado pela sensaboria tecnológica, ele nos priva dos seus traços (o que é uma pena) e lança mão do arcview. Mas assim, sabe, sem perder a ternura, reconheço.
Na crônica, citei alguns geólogos que estiveram presentes no batente, como orientadores ou como companheiros nos porres homéricos pela solidão das noites amazônicas.
Por coincidência, exatamente no dia em que a crônica saiu na coluna, fazia uma conexão em Belém, o geólogo Alcídio Pinheiro Ribeiro.
“Dias” depois, recebi um e-mail do Alcídio comentando a coincidência, celebrando o nosso reencontro (havia mais de 10 anos que não tínhamos notícia um do outro) e externando seu descontentamento por não ter sido citado na crônica.
Reclamou com razão. Inclusive com argumentos literários. À crônica, cabe o registro contextual e emocional dos fatos. E não tive o cuidado, na ocasião, de inserir o Xapiru no texto. Mas me justifico dizendo que o Alcídio, em poucas oportunidades esteve presente. Eu convivi mais com o Xapiru. Esta a questão: para integrá-lo ao texto, teria que explicar o porquê do apelido, o que me levaria um bocadão de espaço aqui na coluna...
Quando o ‘Alcídio’ (que para mim, hoje, é um novo amigo) chegou em Rondônia, havia o fato curioso de termos, na mesma empresa um geólogo e um técnico naturais do Xapuri, no Acre (o que convenhamos, era um fato raríssimo, primeiro porque a maioria dos acreanos ali, era peão; segundo, dois graduados acreanos no mesmo canto? Huummm...Acreanos?...). O técnico era eu e o geólogo, o ‘conterra’, Roberto Matias. Alcídio sacou aquele fato inusitado e além de identificar a curiosidade, zombava da gente por causa do nome da nossa cidade natal. Fazia questão de errar a pronúncia. E, conscientemente, falava Xapiru, quando se referia ao nosso querido Xapuri. Pra quê... Logo, o feitiço virou contra o feiticeiro e o neologismo Xapiru, passou a ser nome próprio com a missão única de identificá-lo. Então, já sabe, quando eu mencionar aqui, o Xapiru, queiram entender o, agora doutorando, Alcídio Pinheiro Ribeiro.
Mas, meu querido Xapiru, não podemos nos ater às veleidades. Uma crônica, segundo os teóricos, desmorona sob o peso da temporalidade. Não resiste a um ‘day after’ (embora eu saiba que não é bem assim. Muita gente recorta e guarda o texto, comenta no dia seguinte, manda e-mail...). O certo é que uma crônica tem limites e objeções. Não encerra em si, toda a verdade (e às vezes está mesmo é apinhada de férteis mentiras).
A verdade é que, na universidade, sempre falo no Xapiru. Agora, os meninos, para fazer um mapinha recorrem aos programas mais avançados. Relato aos colegas que naqueles tempos, o Xapiru dissertava traços elegantes sobre o vegetal, sobrepunha perfis com engenhosidade e reconstruía o interior da Terra com uma imaginação invejável. Era um artista admirável. Dotava de um certo charme, a sintaxe geológica. Botava, com larga facilidade, qualquer arcmap no bolso. A ele, bastava uma nanquim, um par de esquadros, uma caixa de lápis de cor e pronto, a gente desvendava, de prima, os esconderijos secretos dos vis metais.
Hoje, constatei, domado pela sensaboria tecnológica, ele nos priva dos seus traços (o que é uma pena) e lança mão do arcview. Mas assim, sabe, sem perder a ternura, reconheço.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
CÍRIOS
Círios
(Marco Aurélio e Vital Lima)
Meu filho, vês aquela claridade?
É a cidade na escuridão...
O barco singra as águas
E pulsa feito um coração
Cheio de alegria,bálsamo,benção.
O Círio de Nazaré,
Tu verás, será, menino,
Algo pra não se esquecer,
Pra colar no teu caminho
Feito o som de uma viola
Que te fez chorar baixinho...
Quando vires a Senhora
Ficarás pequenininho
Diante do mistério que há
Nessa nossa vida humana,
Vais crescer mais que o luar,
Vais voar mais que as semanas,
Vais sorrir pro revelado,
Fruto da emoção na boca
De que tudo é amarrado
E o mundo é UM, é oca.
Menino acorda e vem olhar
O sol não tarda em levantar
Vem ver Belém
Que começa a despertar.
Outros outubros tu verás
(e outubros guardam histórias),
Ver o peso
Quando for a hora.
domingo, 4 de outubro de 2009
sábado, 3 de outubro de 2009
A voz do povo campesino
Uma das coisas mais incríveis que eu presenciei, foi um show, lá na escola de educação fisica do Pará, há anos,da grande Mercedes Sosa. Ela, acompanhada de seu "bombo leguero"(tambor de um som que eu nunca ouvi igual),e um violonista na penumbra do palco. Cantou com aquela voz expressiva, quente, ora suave, quando nos embalava ao som de "Duerme negrito", ora forte, bradando "La carta", ora melancólica, cantando a incrível "Alfonsyna y el mar".
A platéia em estado de oração, olhando aquela mulher com feições de indio, mas incorporada pelos espíritos dos deuses andinos. E agora parece que os deuses a querem de volta.
A platéia em estado de oração, olhando aquela mulher com feições de indio, mas incorporada pelos espíritos dos deuses andinos. E agora parece que os deuses a querem de volta.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
BASÍLICA
Quando eu era pequeno aguardava ansioso pela chegada do Círio. O cheiro da maniçoba no ar, o povo passando aos montes na frente de casa, os brinquedos coloridos de miriti, os roques-roques, os passarinhos tec-tec batendo as asas de tampinha de refrigerante, as fitas, os fogos de artifício.
Prá mim era a representação perfeita de mais um momento de alegria na nossa família. Íamos todos juntos ver a passagem da Santa e com os olhos ainda molhados de emoção tirávamos uma foto em frente da Basílica. Ao entrar não continha a alegria de passear com os olhos por todos os detalhes daquela maravilhosa igreja. Não tava nem aí prá missa, afinal não entendia o que se passava até então. Admirava os afrescos, as esculturas, os lustres no teto, as pedras de mármore e de granito, as colunas laterais, as grossas portas da entrada com altos-relevos maravilhosos, o altar imponente, o órgão gigantesco, as estátuas em tamanho natural, os púlpitos. Tudo parecia bem maior diante dos meus olhos de criança e hoje ainda me impressiono com tantos detalhes quando posso passar por lá.
Fica aqui minha homenagem a esse importante ícone do Círio de Nossa Senhora de Nazaré que marcou minha infância e meu modo de olhar para a arte.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Tirado literalmente do blog Belenâmbulo:
Quarta-feira, 30 de Setembro de 2009
Proibido aqui, permitido em todos os demais lugares
Pelo aspecto da base do poste, pode-se dizer que a proibição está sendo respeitada strictu sensu. Entretanto, não é necessário respirar fundo para perceber que o entorno já virou banheiro público.
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