Cássio de Andrade
Que saudade da lama gulosa da Doca, das vacarias da Jabatiteua, das porradas na Praça do Operário, das enchentes dos covões de São Brás, das filas do Cine Independência, dos barcos de cascos de geladeiras do Tucunduba, dos ratos nadadores da Dr. Moraes, das festinhas da turma da Bailique, da gordura do Cuca, da cafonice do TV Cidade, das roupas de griffe do Everaldo Lobato, das piadas sem graça do Kzan Lourenço, dos berros do Buraco, do desbotado canguru da Radiolux, do verde-limo do Dino das Superlojas, das tiradas do Bolso do Repórter, dos embalos de sábado a tarde do Zuca Brilhantina, dos shorts de duas bandas vendidos no Regatão, das calças de lycra da Makel, dos bombons afanados na Lobrás, dos gritos do Gelmirez no dia da Raça, do Alecrim chamando a secretária para dar um quilo de bombom aos candidatos a astro no Clube do Garoto, da mendiga da lata que tinha um caroço no pescoço, da Maria Garapé, das chamadas do Patrulha da Cidade, do pão massa grossa e do pão massa fina, do supermercado Metralhadora, do Armarinho Holanda que vendia sacos de chop, do saco de chop, do Armando Português que dividia o lucro com o freguês, do Pinduca cantando o pinto o quando nasce, das cafonices do Pierre, do Omar Cardoso, do Regulador Xavier, da Limonada Bezerra, quanta saudade, Belém!
9 comentários:
De comprar ploc na taberna do seu Sérgio, de ouvir esculacho porque ploc faz mal pro dente, dos batuques na noite escura nos confins da Timbiras, do canto da saracura na madrugada fria, de ver os fogos do encerramento do Círio da janela do último quarto, sem sair de casa, do roc-roc com caixa de papelão enfeitada com crepom e cabo sujo de breu na ponta, dos aviões de lata com hélice pra trás, a girar na ponta do fio, de ficar sentado embaixo da rede do velho, no chão de tábua lisa macheada, esperando o Tio Patinhas vir prá mãozinha, de ir prá feira da Batista Campos com o braço enganchado no da mamãe, saudade...
Disso que o Artur relembrou eu lembro. Saudades mesmo...
De não precisar passar a chave na porta da frente. De poder sentar e ficar conversando até altas horas na porta de casa. De contar casos de visagem quando faltava luz. De comer banana branca que o papai trazia em caixas de papelão. De ganhar um brinquedinho do papai no Recírio. De passar o dorso da minha mão na barba mal feita do queixo do papai, e ouvir ele dizendo que aquilo lhe dava soluço. De brincar dentro daquela moita em formato de cabeça de cobra que ficava no fundo do quintal. De alugar o Artur durante as caçadas a ratos na beira da vala. De ouvir os vinis do Nilson Chaves aos sábados enquanto eu varria a casa.
De ouvir a mamãe dizendo que ia "lá embaixo" fazer a feira, dos vagalumes na beira da vala quando a luz ia embora, do bolo de chocolate e do nescau nas noites de fim de ano, de ver as estrelas sem precisar ir pro interior, do liberalzinho prá resolver os jogos dos sete erros, de subir numa árvore e adormecer lá no alto, do barulho da chuva no telhado, de tomar elixir paregórico gelado prá passar dor de barriga, ou melhoral melhoral, é remédio e não faz mal quando dava uma dor de cabeça....
Eu tô reconhecendo boa parte, mas quem são esses ai?:
Quem é esse Buraco que berrava? E o que era a gordura da Cuca?
Zeca Brilhantina ficava onde?
E os gritos do Gelmirez?
E onde era o supermercado metralhadora?
AH!AH!AH! O supermercado metralhadora devia ficar ou no Bengui ou na Terra Firme, onde rolavam os assaltos....
Eu acho que o tal "Buraco" era aquele velhote que andava toda a cidade dentro de um carro-som e que falava sempre usando um microfone. Ele passava na Pariquis e gritava pelo auto-falante: "Um abraço para o Tele-Dias". Ele ficou famoso por esse nome devido a uma gafe certa vez, em algum evento importante, para o qual fôra chamado a ser o locutor. Segundo o papai contava, a gafe foi durante uma noite. O Buraco disse: "Parece que vamos ter uma noitada, esta noite, pessoal..." Aí os amigos não o perdoaram e passaram a "encarnar" o famoso propagandista.
AAAAH, sim! o Buraco era aquele locutor (no fusquinha) que quando falava, ao final de algumas palavras, assobiava.
Perfeito, Jorge era ele mesmo. Inclusive ele foi citado em minha dissertação de mestrado, pois o Sindicato dos Bancários contratava o som do "Buraco" para fazer grevilhas na frente dos bancos.Em relação ao "Cuca", foi um erro de digitação, pois é o "Cuia", o Rei Momo. O "Zuca Brilhantina" era o codnome do locutor José Esteves, cujo apelido era "Zuca" e apresentava um programa de discoteca aos sábados à tarde na Rádio Marajoara, chamado "Os Embalos de Sábado à tarde", no final dos anos 70. Nos anos 80 tornou-se apresentador do Jornal Liberal, depois sumiu. Não sei por onde anda agora. O Gelmirez era o "Professor Gelmirez", animador oficial do desfile do Dia da Raça em Belém, diga-se de passagem de notável saber, falecido nos anos 90. Quanto ao "Supermercado Metralhadora", não sei onde ficava, mas era cadeira cativa dos comerciais brocos da extinta TV Guajará Canal 4, junto com o Armarinho Holanda e o então pequeno supermercado Formosa. Rs.
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