sexta-feira, 12 de março de 2010

Uma morte sentida

Hoje, logo cedo, recebi o impacto da morte do grande Glauco Vilas Boas, e de seu filho, Raoni. Os dois tiveram a casa invadida por ladrões, em Osasco, São Paulo, esta madrugada.

Em nossa adolescência, a revisa "Chiclete com Banana", que Glauco fazia junto com o Angeli e o Laerte, foi uma referência em termos de humor inteligente. Ele escrachava com o homem urbano, principalmente o de classe média, mostrando suas paranóias, seus preconceitos, sua pequenez. Inspirado na teoria freudiana do Complexo de Édipo, criou o Geraldão, o onanista compulsivo que queria traçar a mãe de qualquer maneira. Tinha o Vicente Tarente que, apesar de ter rendido menos tiras que outros personagens, me divertia bastante, por ser a descrição exata de meia dúzia de figuras que eu conhecia. Tinha a dona Marta, paulistana balzaquiana, sempre tentando consumar sua ninfomania, mesmo que para isso precisasse usar golpes baixos, tipo, encomendar uma pizza e atacar o entregador. Tinha o casal Neuras, bem anos 80, com seus cortes de cabelo estilosos e a briga pelas coisas mais insignificantes possíveis. Ridicularizando essas categorias, Glauco e sua turma ofereceram a seus leitores outras visões de mundo. Mesmo que a intenção não fosse de politizar, havia um discurso crítico, que se acentuou no Angeli, nos anos seguintes, por exemplo.

Ao mostrar as baixezas do Ser Humano, Glauco nos colocava diante do espelho (desculpem o clichê) para nos revelar a nós mesmos em toda a nossa fragilidade. Porque rir das tiras do Glauco era um sinal dessa consciência.

Uma mente criativa, silenciada pela estupidez de assassinos ignorantes do valor de sua vítima: até onde esse abismo que cria pessoas destituídas de compaixão vai se abrir?

4 comentários:

José Maria disse...

Fiquei chocado.

DANIEL disse...

Não sabia!

Fernando Amorim disse...

Não consigo absorver a morte de um artista. Pra mim é sempre uma perda irreparável.
Fiquei com a sensação de que perdi alguém da família, sei lá.

Eduardo Dias disse...

Se o artista é a "antena do mundo", nossa vida se encherá de chuviscos de agora em diante, até que surja outro prá refazer a sintonia.