segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Amar é…

Por Cássio Andrade



Quando criança, procurava aprender o que era amar, vendo os bonequinhos do “amar é…” com suas frases de efeito sobre o amor recheado por uma filosofia simples quase de auto-ajuda. Pareciam receitas na confeitaria do afeto.

Também fui ensinado a amar meus pais. Em minha infância, ainda se chegou a seguir a velha fórmula: papai no bolso, mamãe no coração. Quanta distância entre o bolso e o coração! À mãe, a ternura, o carinho, o afeto; ao pai, o trabalho, a autoridade, nenhum doce predileto. Minha geração precisou mudar esse receituário.

Ainda bem que aprendemos a amar nossos pais, como se não houvesse amanhã, da forma como alguém, já do outro lado, nos ajudou a amar as pessoas. Que país poderíamos nos tornar se continuássemos a amar do velho jeito?

Nesse dia dos pais, peço licença para, em nome do amor radical e sem fronteiras, render homenagem a meu filho. Na verdade, agradecê-lo por me fazer pai; por obrigar a revelar o rosto materno da paternidade.

Confesso que tentei projetar um caminho diferente a meu filho: jogar bola, levar ao campo, falar das minas, impor-lhe um clube para o qual torcer, essas coisas que usalmente fazem os pais aos filhos varões. A vida me fez abortar esse filho projetado e mudar o enredo dessa história. Ainda bem, pois aprendi a sair da óbvia condição de pai.

Pequenino, com meu filho fiz coisas que o monopólio das mães e avós não permitem ao pai. Troquei fraldas, limpei cocô, dei chuca e embalei na cadeira para fazer dormir. Até coloquei fio na testa para acabar com o soluço. Rompi os tabus da maternidade, às vezes sobre o desaprovo tácito da mãe. Ah, como é bom ser pai e mãe!

Obrigado, meu filho, por continuar a te amar sem condições. A continuar a vê-lo dormir com o rosto eterno da inocência. Diante das incertezas da juventude atual, tenho a feliz certeza de que sempre serás inocente, diante de um mundo mal, descrente e decadente; imundo mundo pós-moderno.

Amar é se tornar irmão, em sendo pai… Feliz dia com os filhos, nesse dia de pai!

2 comentários:

Nen disse...

Parabéns, Cássio, pelas palavras certas. Gostei muito.

Eduardo Dias disse...

Palavras certeiras como flexa.De forma poética você definiu a paternidade. Parabéns, cunhado.