domingo, 7 de fevereiro de 2010

Crônica da semana - Raimundo Sodré

Um a zero



Eita, que esses dias tá chovendo pacas. E no vácuo das chuvas de verdade, uma outra chuva, a de reclamações contra as empresas de celular ganha volume. É só nublar (o que por agora, ocorre com estreitíssima frequência) que o telefone fica assim, ó, como se tivesse comido abiu. Mudinho da silva. E a gente não consegue falar com ninguém. E dá-lhe ligar para lá, pr’aquele lugar nenhum pra ver se alguém resolve. O ralado, é que ninguém atende ou então, quem atende é uma entidade virtual meio travada, meio pateta, meio sádica, meio tudo que não presta.
Outro dia, passei uma consumição daquelas com a minha internet. E liga, e tenta e nada. Já tava nas últimas, com aquela coisa me subindo, sabe, aquela angústia me apertando o peito, aquela gastura. Já estava na batida da campa da minha paciência quando resolvi ligar pra Anatel.
Taí uma coisa que fiz sem fé, mas que, pelo menos, me aliviou a alma.
Um ponto de extrema importância: uma pessoa de verdade fala com a gente. Só aí já vale. Enquanto lá, na operadora xis (que pode ser qualquer uma. Hoje no mercado, não existe nenhuma melhorzinha. Todas são piores. Todas têm esta vocação nojenta para malinar com a gente e nos deixar pirados) a gente se bate com uma máquina, na Anatel, do outro lado da linha, bate um coração. No meu caso, o coração de uma pequena de nome estranhíssimo, difícil de pronunciar e de guardar. Mas que se mostrou de uma singeleza, uma docilidade de assustar (parece que elas sabem que quando a gente liga pra lá, vai tomado por um sentimento de desamparo, vai movido por um avançado estado de degradação moral. Entendem o nosso sofrimento e nos acalmam).
Contei o meu caso pra pequena e ela se mostrou solidária, partilhou da minha indignação e foi se adiantando em benevolências e corroborações. Aí, abri meu coração pr’ela: “olha, maninha (na completa impossibilidade de pronunciar-lhe o nome, apelei para a intimidade do prosaico paraensismo), posso te falar o que esse povo faz com a gente”? E ela, “Sim, sim”, consentiu-me.
- Eles, sabe, eles são maus. Eles, quando estudavam no prezinho, sabe, eles roubavam o lanchinho dos coleguinhas deles. Eles não respeitam ninguém. Nos deixam esperando ao telefone, tanto tempo, tanto tempo, que a nossa orelha fica uma brasa só. E, sabe, são maus. Eles, não duvido, não, que quando estudavam no prezinho, eles quebravam o lápis dos coleguinhas deles. Tá me ouvindo? Posso continuar?
E ela, candidamente, me permitia:
- Sim, sim, estou ouvindo o senhor.
- Sabias, que teve uma hora que eu ligava, falava um tantinho com a atendente virtual, traços monossilábicas, tipo “não”, “sim”, “aceito”. E de repente caia a linha. Aí, eu ligava outra vez, e repetia a ladainha, e lá a bicha caía de novo. Sabe o que a gravação me falou? Que eu ia ter a minha linha bloqueada porque estava utilizando o serviço indevidamente. Já pensaste? Caramba! Nessa hora quase que eu tenho um troço. Sei lá, esse povo...Sabe, eles são maus que só. Dou minha cara a bufete se eles, no prezinho, não bicudavam a canela dos coleguinhas deles na hora do hino. Duvidedodó se eles, no prezinho, não davam coque nos coleguinhas deles. São maus.
Houve um momento que me deu até uma vontade de chorar. Sério. Mas não foi de desespero, não. Estava emocionado. Agradecido por ter pelo menos alguém para me ouvir. Naqueles instantes, botei todas as minhas apreensões pra fora, os meus traumas, as minhas mais recônditas frustrações, os meus gritos guardados.
Quando encerrei a conversa, estava mais leve, o espírito abrandado. Me despedi e elogiei o atendimento.
Um a zero pra Anatel.

Um comentário:

José Maria disse...

Mermão, já tive vários aborrecimentos com os atendentes da OI.
Uma das piores foi quando precisei cancelar uma linha. Quando eu dizia que queria cancelar a dita cuja, a atendente ficava me enrrolando, perguntando o motivo.Eu informava que não iria mais precisar do telefone por motivos de encerramento da atividade da empresa e então a talzinha fazia de tudo prá eu não cancelar, dizendo que eu poderiaz um dia querer reativar, que eu poderia passar para outra pessoa, que blá, blá,blá...
Vira e mexe a ligação caia, fazendo com que eu tivesse que passar por todos os atendentes até chegar no de cancelamento e começar tudo de novo.
Demorou um tanto assim prá resolver.
A Anatel realmente funciona.Também já tive uma situação que acabei descobrindo o endereço da Anatel aqui em Belém(fica na parte de trás do prédio do correio central, ali na senador Lemos).Lá fiz a denúnica pessoalmente, cara a cara com a pessoa e em alguns dias o entrave com a dona TIM foi resolvido.